A população de Covas do Barroso, em Boticas, está preocupada com a mina de lítio prevista para a região. Os emigrantes temem não poder regressar à sua terra caso o projeto de exploração avance.
Foram recolhidas declarações de emigrantes de Covas do Barroso pela Lusa, citada pelo Diário de Trás-os-Montes, no âmbito de uma caminhada organizada na manhã de sábado no concelho de Boticas, distrito de Vila Real, pela Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, contra a destruição da floresta e a falta de regulamentação na indústria mineira.
Mais de 60 pessoas iniciaram a caminhada de cerca de 10 quilómetros em Covas do Barroso, envergando t-shirts com as palavras ‘sim à vida não à mina’. No percurso em direção ao Vale do Cabrão, local onde foram realizadas prospeções, juntaram-se mais cerca de 40 pessoas na aldeia de Romainho.
“Todos os anos venho a Portugal para a casa dos meus pais, que é a última de Covas do Barroso e tem vista direta para os montes que querem destruir. Estamos todos preocupados com isto”, explica à agência Lusa Jorge de Aquino, que vive em França desde os cinco anos. Salienta ainda que teme não poder voltar caso a exploração mineira se concretize tão próxima da sua casa.
Também natural de Covas do Barroso, mas a viver em Braga, Elisabete Fernandes não quer perder as raízes, mas teme ter de cortar a ligação à sua terra caso o projeto de exploração da Mina do Barroso, pela Savannah Lithium, avance. “Não nos passa pela cabeça ter cá esta realidade. O que nos puxa para cá é o que tem de bom, a natureza, o rio, as montanhas, tudo o que nos faz sentir bem”, sublinha.
Nélson Gomes, presidente da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, explicou à Lusa que a iniciativa era mais uma forma das pessoas “perceberem o que se está a passar”, principalmente a quem está fora na maior parte do ano, pois “muitos não têm grande conhecimento do que se está a passar”. Sublinhou ainda que “uma mina a céu aberto tão próxima das casas não é solução”.
A empresa Savannah anunciou em junho que submeteu à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e o Plano de Lavra para o projeto de exploração de lítio na Mina do Barroso, mas Nelson Gomes diz não ter “grandes expectativas” sobre o estudo.
“Já sabemos que vai sair aprovado, o estudo não vai trazer nada de novo e é como um fato feito à medida do dono. Seja como for não vai eliminar a proximidade da aldeia ou o impacto na água” partilhou, garantindo lutar até ao fim para evitar a exploração mineira naquela região.
Catarina Alves Scarrott da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, participou no painel “Ambiente do Avesso?” organizado pelo Interior do Avesso, enquadrando o caso e ponto de situação do projeto da mina de lítio do Barroso. A sua intervenção está disponível aqui.
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