No concelho de Vila Real, a COVID-19 tem sido grande reveladora das desigualdades económicas, sociais, ambientais e até geracionais.
Embora, inicialmente, o impacto sanitário tenha atingido sobretudo camadas mais afluentes e com maior mobilidade global é nas camadas economicamente mais frágeis que a crise se vem agravando atingindo níveis de contágio graves e imprevistos. Quem não tem habitação adequada, quem não tem acesso a água, energia e telecomunicações é mais vulnerável à contaminação e não tem como defender-se.
Os habitantes com os rendimentos mais baixos foram os que menos conseguiram cumprir o auto-confinamento. Tiveram de continuar a trabalhar, já que deles depende o suporte invisível de muitas estruturas; sem uma enorme quantidade de serviços em funcionamento e pouco valorizados, quase sempre mal pagos, a concentração do concelho não atingiria seguramente as dimensões perigosas que todos testemunhamos.
Os surtos a que assistimos em lares de idosos, com uma elevada taxa de mortalidade são “imagens” que não podem ser esquecidas. Implicam repensar a forma como organizamos a comunidade local e os equipamentos coletivos. Os lares não podem continuar a ser depósitos de pessoas ditas “inativas”, precisam de ser espaços multigeracionais, com modalidades diversificadas de habitação partilhada inserida na comunidade envolvente.
Os alojamentos de emergência para pessoas sem recursos, têm de dar prioridade à autonomia habitacional e ao direito à privacidade.
Pensões baratas, a que a segurança social recorre quando falta alojamento, são um mundo onde a especulação se alimenta de dinheiros públicos, numa aliança perversa, escondida por trás da fachada de prédios anónimos. Se juntarmos a estas vulnerabilidades o crescimento exponencial de pedidos de apoio alimentar, mesmo de pessoas que nunca pensaram vir a ter de o fazer, e a massa crescente de desempregados sem qualquer rendimento, vislumbramos a profundidade da crise que a pandemia arrasta consigo. Estamos ainda no começo…
Nasceu e cresceu em Vila Real. Psicóloga de formação. Desde cedo, manifestou interesse pelas questões sociais e políticas. Ativista pelos Direitos Humanos, integrou o Movimento “Que se Lixe a Troika”, coopera com a Rede 8 de Março entre outros movimentos/colectivos nacionais e locais. É Co-Fundadora e membro activo da Catarse-Movimento Social.
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