50 anos depois. As mesmas lutas.
Recuemos 50 anos e relembremos o verão de 1969. Em Nova Iorque, os ataques a estabelecimentos LGBTI+ eram regulares. Embora houvesse bastante resistência, a comunidade LGBTI+ sofria de bastante discriminação e era expulsa dos estabelecimentos noturnos, onde eram espancados e torturados sem causa aparente. Na noite de 27 de junho, houve uma multidão que se reuniu em Stonewall Inn, um famoso bar gay. A polícia invadiu o bar, já nas primeiras horas da manhã de 28 de junho, para “impor uma lei de controlo de álcool”. Foram chamados reforços policiais, enquanto a comunidade se unia contra os maus-tratos infligidos, historicamente, à comunidade. Esse protesto ficou conhecido como a Revolta de Stonewall, que foi um catalisador para o moderno movimento LGBTI+.
O movimento vem promovendo a causa dos direitos LGBTI+ pressionando a classe política e aumentando a visibilidade para educar sobre questões importantes para a comunidade LGBTI+. O movimento de orgulho LGBTI+ defende o reconhecimento de iguais “direitos e benefícios” para todos.
O Orgulho LGBTI+ é uma celebração, um protesto, um ato de ativismo político. É um conceito onde a comunidade LGBTI+ deve ter orgulho na sua orientação sexual e identidade de género. A palavra orgulho é usada como antónimo de vergonha. Essa vergonha que foi usada ao longo da história para oprimir e criminalizar a comunidade LGBTI+. Por isso, orgulho funciona como um sinal individual e coletivo de afirmação perante uma sociedade castradora.
Para que as cores que inundam as principais cidades de Portugal invadam a consciência de todos e que possa funcionar, também, como uma chamada de atenção contra a lesbofobia, a homofobia, a bifobia e a transfobia e pela constante luta sobre direitos iguais.
Para que a luta seja uma luta de todos, Vila Real viu nascer, com a Catarse / Movimento Social, a Marcha LGBTI+ de Vila Real. Em 2019, realizou-se a terceira cujo manifesto se transcreve:
Mais uma Marcha. A terceira. A terceira Marcha LGBT+ de Vila Real.
No século da inovação, no século das Novas Tecnologias, ainda nos deparamos com bastantes desigualdades. Deparamo-nos, hoje, com a forte ascensão das vozes de ódio da extrema-direita. Vozes que se levantam com o objetivo de ferir a comunidade LGBT+ e de corroer a opinião pública. Continuamos a assistir à privação desses direitos que são tão básicos como o direito à educação e à saúde. E falamos de direitos que passam, única e exclusivamente, por papeis. Por burocracias. E mais uma vez, a coragem dos valentões políticos dos abraços e da compreensão, desmascarou-se e voltou à sua forma original: a forma medieval, elitista, primária, preconceituosa e que continua, às claras, a prestar vassalagem aos interesses da religião predominante, neste estado que se diz laico.
A autodeterminação de género não é um privilégio: é um direito fundamental à existência humana. É um direito à felicidade, à livre determinação de si. Tal como a intersexualidade. Tal como todas as formas de ser feliz o são. A felicidade individual deveria ser o primeiro de todos os direitos. Mas por que tanto custa aceitar a felicidade do outro?
Saímos à rua por acreditarmos numa sociedade que se respeita, que se dá ao respeito, que se ama a si própria. Porque acreditamos num estado igualitário, onde a orientação sexual, a trans e intersexualidade não são obstáculos à hegemonia, mas sim parte integrante desta. Saímos à rua por todas e todos que ficam em casa: por vergonha de si mesmos, pelo medo que a rua lhes ensinou a ter, pelo pensamento afligido de ver as famílias que os abandonam, pelos patrões que os perseguem, pelos amigos que se tornam inimigos. Pela solidão antecipada, pelo vazio que vem depois. Somos a voz de todas e todos os que não podem expressar livremente o amor por si ou por outrem.
Mas aqui estamos nós. Em Vila Real. Levar Vila Real para o mapa da igualdade. Para ensinar Vila Real que a liberdade é para todos. Para acabar com a ignorância de quem não aceita e de quem repudia. Estamos aqui para não deixar as instituições competentes adormecerem o assunto, para alertar as forças de segurança, o dever proteger as cidadãs e os cidadãos, independentemente do género, etnia ou orientação sexual. Porque é dever do Estado, das autarquias, da escola pública e de todas as instituições educar para a igualdade e proteger as suas cidadãs e cidadãos, mas que infelizmente pouco ou nada tem acontecido neste sentido. E somos nós, organizações voluntárias, que andamos na rua e nas escolas a formar a futura sociedade.
Basta de incompetência estatal, da desresponsabilização dos seus deveres e de termos cidadãs e cidadãos de primeira, de segunda e até de terceira.
Não à discriminação. Não ao discurso de ódio. Sim à tolerância. Sim ao direito à igualdade. Ninguém larga a mão de ninguém. Ninguém ficará para trás. A luta ainda agora começou.
3ª Marcha LGBT+ de Vila Real
CATARSE é transformação, CATARSE é liberdade de expressão. CATARSE é a nossa vontade de progredir/actuar socialmente, em busca da igualdade. CATARSE é manifestação, é luta.
CATARSE é contra qualquer atentado à liberdade/dignidade Humana.