No final do filme Interstellar a filha – às portas da morte – diz ao pai – por quem o tempo passou de forma muito mais lenta, resultado das viagens entre galáxias – que tem a sua companheira de viagem – e amada – à sua espera, noutro planeta, num planeta pronto a ser habitado por uma humanidade pós-apocalipse.
Sabermos que temos alguém à nossa espera, ainda que separados por uma distância significativa – uma distância que constitui simultaneamente um desafio, algo que temos de necessariamente ultrapassar se queremos realmente voltar a nos encontrar – é o sentimento mais reconfortante do mundo, dá sentido à nossa vida. Quando Cooper toma consciência de que Amelia está à sua espera, nesse planeta virgem que só ele no mundo tem conhecimento, ele pode libertar-se da inércia, dessa nostalgia, em que tinha provisoriamente mergulhado.
Ter alguém à nossa espera, apesar da distância que nos separa, é como uma bênção. A nossa casa deixa de ser exclusivamente uma coisa física, um território, um edifício. Quando adormecemos com o sentimento de que está alguém à nossa espera, a nossa casa é o lugar do outro – a nossa pátria é a da nossa amada ou do nosso amado.
A doutrina popular da alma-gémea ou da cara-metade, faz do amor o encontro entre dois seres que, mesmo sem o saber, esperam um pelo outro. A espera pode demorar anos, décadas, pode até nunca se dar o encontro, e os amantes morrerem sem a oportunidade para se amarem. Mas esse infortúnio, essa tragédia, não invalida, não refuta, o facto dessa espera mútua. De alguém que pacientemente espera por nós, ou, no sentido inverso, nos procura activamente sem que nós próprios o saibamos.