Ambientalistas defendem caudais ecológicos para resolver escassez de água no rio Tejo

Foto por ProTejo – Movimento Pelo Tejo | Facebook
O movimento ambientalista proTejo diz ser “urgente definir caudais ecológicos no Rio Tejo” para resolver um “problema antigo de variabilidade da quantidade da água”. A irregularidade dos caudais que se tem feito sentir tem vários impactos ecológicos negativos.

“Temos dias em que o Rio Tejo parece uma autêntica ribeira, que se atravessa com água pelos tornozelos, e temos dias em que leva muita água, chegando os caudais a variar de forma abrupta de hora para hora”. Esta é uma situação que se verifica “desde 2009”, disse Paulo Constantino, porta-voz do movimento, ao Mediotejo.net.

Segundo o ambientalista do movimento com sede em Vila Nova da Barquinha, “tal acontece porque na Convenção de Albufeira não estão estabelecidos caudais ecológicos, o que permite às barragens hidroelétricas a montante, portuguesas e espanholas, debitarem água quando querem e quando lhes é mais rentável”.

Paulo Constantino defende, em declarações ao Mediotejo, que “devem ser estabelecidos caudais ecológicos regulares, contínuos e instantâneos, medidos em metros cúbicos por segundo (m3/s), e respeitando a sazonalidade das estações do ano”, ou seja, “maiores no inverno e outono e menores no verão e primavera, por oposição aos caudais mínimos negociados há 22 anos na Convenção de Albufeira sem se concretizar o processo de transição para o regime caudais ecológicos que essa mesma Convenção prevê”.

A variação de caudais provocam diversos impactos ecológicos negativos, como a “destruição da vegetação ribeirinha (ripícola), a destruição das posturas das espécies piscícolas que se reproduzem no Tejo, nomeadamente a lampreia, o sável e a saboga, uma vez que a desova ocorre quando os caudais são mais significativos mas que, devido à sua descida abrupta, ficam expostas ao sol fora de água sendo destruídas, sendo o período crítico de janeiro a julho”, explicou o ambientalista.

O ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Matos Fernandes, disse na terça-feira que a redução do caudal do Tejo está “minimizada” e que “não representa um incumprimento” da Convenção de Albufeira. Algo contestado por Paulo Constantino ao Mediotejo, que considera ser possível a Espanha “cumprir a Convenção de Albufeira e enviar os caudais como bem lhes apetece tendo em conta o que está estipulado”.

“Entre 2010 e 2019 chegou em cada ano 5.500 h3 de água, o dobro do que está previsto”, fez notar, sublinhando que “o problema não é a quantidade que chega de água mas sim o momento e as variações com que chega”. Apontando como motivo para tal acontecer “a gestão da água para a produção hidroelétrica com base na maximização do lucro sem qualquer definição de verdadeiros caudais ecológicos, mas sim de caudais mínimos”.

“Dos 2.700 h3 previstos, só 37% do caudal anual está estabelecido como sendo para distribuir ao longo dos trimestres, o que quer dizer que os outros 63% podem ser enviados, em absurdo, numa única hora”, exemplificou ainda o ambientalista. Por este motivo, os caudais são “irregulares, quer seja de inverno ou verão, quer seja ano seco ou húmido”.

 

“Porque não exige o Governo um regime de caudais verdadeiramente ecológico à EDP?!”

A deputada à Assembleia da República, pelo Bloco de Esquerda, Fabíola Cardoso, confrontou esta semana, mais uma vez, o Ministro do Ambiente sobre as “inaceitáveis variações de caudais do Tejo, que ameaçam o equilíbrio do Rio”.

A EDP “consegue encher os bolsos dos seus acionistas, mas esvazia a vida do Rio Tejo” acusou a deputada, questionado o Ministro “porque motivo não atua o seu Governo? Porque motivo o Governo não exige à EDP um regime de caudais verdadeiramente ecológicos para o Rio Tejo?”.

“A solução não passa pela construção de mais barragens, açudes e barreiras que só agravariam o problema do rio Tejo e afluentes, nem por diminuições unilaterais de transvases, mas passa por garantir um regime de caudais verdadeiramente ecológicos para o Tejo”, sublinhou.

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