O deputado José Maria Cardoso, em visita a Ribeira de Pena, disse considerar justa a reivindicação dos moradores que se opõem à passagem das linhas de alta tensão junto às populações de Senra, Friúmes, Ruival e Fontes, afirmando que o Bloco é a voz destas reivindicações. Os moradores apelam ao governo para pôr travão nesta obra.
“Nós somos muito a voz destas reivindicações, quando as consideramos justas, como acontece aqui” disse José Maria Cardoso, deputado do Bloco de Esquerda à margem de uma visita ao concelho de Ribeira de Pena com a deputada Maria Manuel Rola e com a população de Senra, Friúmes, Ruival e Fontes que contestam a instalação de postes e de uma linha de alta tensão junto a habitações e sobre terrenos, apelando a uma alteração do traçado “imposto”, e já em execução, pela empresa E-Redes (antiga EDP-Distribuição).
“Estamos perante uma empresa que tem um poder de grande dimensão, uma imposição em relação aos governos, como se vê com a EDP [no caso das barragens], e que é preciso contestar”, diz, de seguida a afirmar que para a linha, independentemente dos problemas de saúde que pode ou não criar, deve prevalecer o “princípio da prevenção e precaução”.
Para o deputado é também importante “aferir a distância que [a linha] deve ter em relação às habitações, que é um aspeto essencial para cumprir a legislação” em vigor.
Informou ainda aos jornalistas presentes que a Câmara Municipal pretende “acionar uma providência cautelar” e considera isso “um dado importante, porque permite criar condições para travar o processo no imediato e criar uma margem de manobra para perceber melhor as implicações do traçado alternativo proposto pelas populações, criando assim argumentos para contrariar os apresentados pela empresa”.
Já Celeste Gonçalves, uma das moradoras presentes, faz um apelo ao governo: “Gostaria que o governo (…) nos pudesse ajudar, vissem a nossa situação, ponham os olhos aqui em Ribeira da Pena, na linha, que é muito prejudicial e há uma alternativa para tirar [a linha] de cima da população”. “Falem com a Iberdrola e com a EDP, eles não são os donos do mundo, eles não são os donos de Ribeira de Pena”, remata esta moradora.
Os moradores acusam a EDP de estar a acelerar o trabalho de forma a que este seja dado como irreversível, desejando conseguir falar diretamente com a EDP para um entendimento.
Petição da população contra a reposição junto às populações destas linhas
Estas visitas vêm no seguimento dos protestos das populações das localidades de Senra, Friúmes, Ruival e Fontes, do concelho de Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real, que decidiram promover uma petição contra o restabelecimento de uma linha de alta tensão “praticamente em cima das habitações”. Esta obra é feita no âmbito da construção do Complexo Hidroelétrico do Alto Tâmega.
No documento pode ler-se que “o restabelecimento da linha irá ocorrer sobre as localidades de Senra, Fontes, Ruival e Friúme, praticamente em cima das habitações que ali se construíram e se estão a construir”.
Uma das moradoras afetadas é Celeste Gonçalves, que considera que a linha poderia ser deslocalizada para junto do rio “onde não existe população”. Acrescenta que “esta intervenção vai criar muitos transtornos, eventualmente até a nível de saúde, e desvalorizar habitações e terrenos agrícolas.”
Presidente da APA e Diretor Geral da Energia e Geologia (DGEG) estiveram no parlamento
O Diretor Geral da Energia e Geologia (DGEG), Eng.º João Pedro Correia Bernardo, e o Presidente da Associação Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, foram ouvidos sobre este assunto, em audição conjunta, no passado dia 3 de março, pela Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território.
O Presidente da APA afirmou que a recolocação de postes de eletricidade afetados pelo enchimento da albufeira de Daivões, no Alto Tâmega, não carecia de Estudo de Impacto Ambiental. Bloco acusa que o único critério para a decisão foi o custo.
Em Portugal, as empresas de produção e distribuição de eletricidade têm lucros milionários, no entanto temos o 4.º preço mais caro da eletricidade na Europa, quando comparado com os rendimentos, e 20% da população em pobreza energética, referiu Nelson Peralta. Apesar disto, “todos os impactos são sobre a população” e no caso de Ribeira de Pena “a empresa é que escolheu as alternativas”.
O Bloco de Esquerda defendeu que a Lei deve ser mudada para proteger a população, nomeadamente do ponto de vista das distâncias, e para que a participação pública seja participada.
Ribeira de Pena: População lança abaixo-assinado contra linha de alta tensão
https://interiordoavesso.pt/interior-do-avesso/moradores-que-contestam-linha-de-alta-tensao-em-ribeira-de-pena-vao-ser-ouvidos-na-comissao-de-ambiente/