Hotelaria e restauração no distrito de Viseu: falta de mão de obra ou falta de condições laborais?

Restaurante
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Bloco de Esquerda de Viseu defende que a alegada falta de mão de obra no setor da hotelaria e restauração do distrito se deve à falta de condições laborais, ao desrespeito pelos direitos dos trabalhadores e aos baixos salários.

No seguimento de notícias sobre a dificuldade das entidades patronais encontrarem quem esteja disponível para trabalhar na hotelaria e na restauração, “para não ficarmos apenas com a versão dos patrões e dos gestores dos ‘recursos humanos’”, a Comissão Distrital do Bloco de Esquerda de Viseu lançou comunicado com uma outra perspetiva.

Dando voz a quem trabalha ou já trabalhou no setor e que “sabem bem que a regra geral é a de se depararem diante de um contexto laboral que vive à margem do cumprimento mínimo das regras laborais.”

Alguns exemplos apontados são horas extras não declaradas nem pagas, jornadas de trabalho semanais de 50 horas ou mais, fins-de-semana e feriados não remunerados enquanto tais e ausência de rotatividade de folgas de forma a contemplar os fins-de-semana e feriados. A isto soma-se “a prática generalizada dos salários baixos que atiram o mês de trabalho ‘real’ para baixo do salário mínimo”. 

Uma realidade de “décadas e décadas de abusos” que faz com que não seja “chocante que o sector não tenha qualquer atratividade, o que atinge o cúmulo com a incapacidade da restauração e hotelaria fixarem os alunos e alunas que fizeram cursos na área, para o qual o próprio Estado investiu com dinheiros públicos”, considera o Bloco.

“Se o sector não consegue arranjar mão-de-obra local tal não se deve ao facto de os locais não quererem trabalhar, o que não querem – e bem! – é trabalhar sem as mínimas condições laborais que dignifiquem a profissão.”

O posicionamento do Bloco de Esquerda de Viseu vem no seguimento de declarações ao Jornal do Centro pelo Presidente da delegação de Viseu da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), afirmando que “são vários os empresários que nos garantem que se estão a deparar com o problema da falta de mão-de-obra para alimentar as necessidades dos seus serviços”.

Declarações no mesmo sentido foram dadas pelo Presidente da Associação de Hoteleiros das Termas de São Pedro do Sul, Joaquim Cardoso, que afirma que “tem sido complicado para nós. Não temos gente para trabalhar na hotelaria. E quem quer trabalhar não quer a hotelaria, porque inibe dos fins-de-semana e à noite há jantares para servir, muitas pessoas querem poder ir para casa às seis ou sete da noite”.

Também Diana Magalhães, diretora de seleção e recrutamento do Grupo Visabeira, se junta à narrativa: “Estamos com algumas dificuldades na contratação, sobretudo nas nossas unidades de Mortágua e Ílhavo. Empregados de limpeza, copeiros, empregados de mesa, lavandaria são algumas das áreas onde não estamos a conseguir mão-de-obra”.

Para o Bloco, “o expediente apontado pelo presidente da AHRESP da ‘importação da mão-de-obra’ é apenas mais uma forma de o sector procurar chutar o problema para a frente e continuar a rentabilizar o sector – e os lucros das empresas – através da sobre-exploração dos trabalhadores.”

“Quando lemos na peça em causa que ‘tanto Joaquim Cardoso como Diana Magalhães (…) terão que começar a alargar a área de procura e criar alguma “flexibilidade no recrutamento’, o que isso significa é que vão alargar a prática tradicional de sobre-exploração para mão-de-obra não nacional e a precarizar e desregular ainda mais o sector”, acrescentam ainda.

“É preciso contrariar esta tendência, devolver a dignidade da profissão ao sector através da valorização de quem trabalha na área. Só os trabalhadores unidos e organizados são capazes de dar uma resposta positiva a esta crise no turismo e travar a voragem da exploração!”, remata o comunicado.

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