Intervir nos lares de idosos. Proteger quem sempre nos protegeu

idoso

Não se compreende que haja hospitais e clínicas fechadas, como as unidades dos SAMS ou do grupo Trofa Saúde, enquanto existem lares sobrelotados que põem em risco milhares de utentes.


A crise pandémica afeta o país inteiro. Mas não afeta toda a gente da mesma forma. É entre os mais velhos que o vírus é mais letal. Em Portugal, quase nove em cada dez mortes são de pessoas com mais de 70 anos. Um terço eram utentes de lares de idosos.

As autoridades de Saúde têm alertado para isso mesmo. Em Portugal há cerca de 2500 lares com 100 mil utentes, por vezes assentes em respostas precárias, com pessoas a mais para cuidados a menos. Este alerta deve ser levado a sério. E isso significa fazer duas coisas.

No imediato, é preciso testar, separar quem tem sintomas de quem não tem e garantir equipamentos de proteção aos trabalhadores dos lares. Só assim se pode tratar quem está doente, cuidar de quem não está infectado e proteger quem cuida; os trabalhadores de sempre e as mais de 1400 pessoas que, nos últimos dias, se voluntariaram para ajudar nos lares.

Sempre que se justifique, o Estado deve requisitar meios privados. Não se compreende que haja hospitais e clínicas fechadas, como as unidades dos SAMS ou do grupo Trofa Saúde, enquanto existem lares sobrelotados que põem em risco milhares de utentes.

No futuro, será necessário investir numa resposta pública, assente no reforço dos cuidados domiciliários e numa rede lares e outras ofertas residenciais, que garanta condições dignas a todas as pessoas.

Todos nos lembramos do papel solidário que as gerações mais velhas tiveram na última crise. Tantas vezes foi a sua pensão, já curta e ainda encurtada pela austeridade, que protegeu filhos sem emprego ou netos sem contrato. Esta é a hora de retribuir.

Cada família responde pelos seus, evitando a proximidade física para combater o vírus e mantendo a proximidade social para combater o isolamento. O Estado tem de responder por todos, já, nos lares para conter o vírus, e, a prazo, com respostas públicas dignas. Não deixar ninguém para trás. Muito menos aqueles que vieram antes de nós e a quem tanto devemos. Um país ligado é um país solidário.

Artigo de Catarina Martins em esquerda.net

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