O regresso do urso-pardo foi discutido nos dias 28 e 29 de outubro em Bragança, num evento promovido pela Palombar, que reuniu especialistas ibéricos, atores locais, instituições académicas e autoridades nacionais.
Segundo artigo da Brigantia, para Miguel Pimenta, especialista na conservação da natureza, reintegrar o urso-pardo na região de Bragança implicaria mudar mentalidades e reconstituir o habitat.
“Para se reintroduzir o urso ou para ele entrar naturalmente, há todo um trabalho gigantesco a fazer. Tem que haver sensibilização. As pessoas têm que aceitar o urso e depois há um plano enorme que tem que ser feito que é o coberto vegetal. A zona não tem capacidade para acolher uma população de ursos reprodutora”, considerou.
O urso-pardo (Ursus arctos) está considerado extinto em Portugal desde a primeira metade do século XIX, tanto pela alteração do habitat como pela caça. Nos últimos 150 anos, a sociedade portuguesa deixou de estar familiarizada com a sua presença, atualmente já não há memória coletiva deste grande mamífero e de como as pessoas interagiam com ele.
Há cerca de dois anos surgiram, no Parque Natural de Montesinho, em Bragança, marcas de patas e colmeias destruídas, o que fazia prever que o urso estaria de volta à região. Porém Miguel Pimenta contou à Brigantia que acredita que foi apenas uma visita pontual.
“A análise genética comprovou [a presença do urso-pardo em Montesinho]. Mas creio que foi uma incursão, penso que haja mais e que já tenha havido e ninguém tenha dado conta porque o urso é um animal furtivo, que anda de noite e pouco durante o dia. É pontual, neste momento, e é possível que seja cada vez mais pontual. A regressão da população humana na zona e a recuperação do habitat é favorável ao regresso do urso”, explicou.
A iniciativa, “E se o urso-pardo voltar?”, foi promovida pela Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, em conjunto com a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA), o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o Município de Bragança (MB) e o Instituto Politécnico de Bragança (IPB).
José Pereira, presidente da Palombar, explicou à Brigantia que o objetivo do evento foi discutir e preparar a população para o regresso do urso-pardo, depois do seu crescimento populacional em Espanha.
“Pretendemos preparar as pessoas e lançar o desafio para a discussão, reflexão, conversa e partilha de experiências daquilo que pode ser o cenário em Portugal, como está a acontecer aqui na Espanha, nomeadamente na Galiza. A reflexão prevê lançar algumas bases para, caso se justifique, começar a preparar a preservação do urso”, sublinhou José Pereira.