Sempre doeu ser,
Tanto ou mais que existir
Ou emitir vida num planeta inóspito como eu.
Grito,
Fujo,
Escondo,
Bato,
Levo,
GRITO.
Não me digam mais nada,
Não estupidifiquem a respiração que nos separa
Com as vossas palavras.
Choro e as águas límpidas do Dão
Limpam me a cara do que os outros não me dão
Queria abraçar te esta noite
E que a meio da noite,
Ainda antes de adormecer,
Esvoaçasses
Para não ver em ti um choro
Que na realidade era meu.
E que as águas, já não tão limpas, daquele rio
Me levem as lágrimas que nunca existiram.
E mesmo depois de teres esvoaçado,
A noite não me abandona
E com ela a minha eterna amante,
A solidão inquieta
Que faz remexer tudo
Tudo o que não há em mim.
E num choro mudo que já nem existe
Ouço agora o dão
Na sua lamentação
Por deixar as minhas lágrimas em riste
Perdidas no Mondego.
Naquele sofrimento
Vejo um rio triste e sujo
Perdido num lamento
Por erradas lágrimas receber
E mesmo essas as perder.
No som daquele rio,
Sorrio em mim,
Morrendo um pedaço dele na minha boca
Fazendo me engolir as lágrimas
Que não eram de nenhum dos dois.