Foto de Vitor Oliveira | Flickr
Dói ser,
Sempre doeu ser,
Tanto ou mais que existir
Ou emitir vida num planeta inóspito como eu.
Grito,
Fujo,
Escondo,
Bato,
Levo,
GRITO.
Não me digam mais nada,
Não estupidifiquem a respiração que nos separa
Com as vossas palavras.
Choro e as águas límpidas do Dão
Limpam me a cara do que os outros não me dão
Queria abraçar te esta noite
E que a meio da noite,
Ainda antes de adormecer,
Esvoaçasses
Para não ver em ti um choro
Que na realidade era meu.
E que as águas, já não tão limpas, daquele rio
Me levem as lágrimas que nunca existiram.
E mesmo depois de teres esvoaçado,
A noite não me abandona
E com ela a minha eterna amante,
A solidão inquieta
Que faz remexer tudo
Tudo o que não há em mim.
E num choro mudo que já nem existe
Ouço agora o dão
Na sua lamentação
Por deixar as minhas lágrimas em riste
Perdidas no Mondego.
Naquele sofrimento
Vejo um rio triste e sujo
Perdido num lamento
Por erradas lágrimas receber
E mesmo essas as perder.
No som daquele rio,
Sorrio em mim,
Morrendo um pedaço dele na minha boca
Fazendo me engolir as lágrimas
Que não eram de nenhum dos dois.