Pequeno o meu olhar matinal
Crescente luz, aurora boreal,
Sou eu pequeno, adultos observo
Caminham, o meu pai servo
O seu dever vai cumprir
Um dia serei eu a servir
Cresço, a minha mãe serve
As flores murcham, aldeia abandonei
O barulho, a náusea, a cidade abracei
Moldado sou num sistema escolar
Se a criança imagina e sabe brincar
Terá o adulto direito a sonhar e realizar?
Sou trabalhador, o meu olhar tardio
O sol a pôr-se, tal como meu corpo
Chagas, dolorido, mas assobio
Canto, tenho asas no coração
Alma liberta, corpo em suspensão
Por fim descanso, dever cumprido
Meus pais do sol a regressar
O sol a pôr-se, eles sombra, eu luz
Serei eu quem os ilumina?
O Humano e o seu dever
Prisão, ilusão, temer
Caminha para o sonho, voa!
Adulto enjaulado, dominado!
Todos nós sentimos o sol nascente
A escolha é quem nos prende
Um destino inevitável é ignorado
Fugidios, dormentes, mas divino
Horizonte dourado o meu menino
Eu desvanecerei, ele ficará
E quem fica herda o meu dever
Ou o sonho deveria iniciar.
O imenso véu a adormecer
O grandioso astro a despertar
E eu a definhar e a estremecer,
Mais um dia de dever…
Hierarquias, imposições capitais
Cidades, renda, máquinas infernais
Horários, roleta russa, cobrança
Meu âmago grita criança,
O Mundo anseia meu esforço…
Criança feliz contagia
O real esforço é a Terra
O dever está na família
Amor o desespero encerra
Oh Trabalhador! olha o Sol que nasce
Artista, respira e abraça o teu menino!