Tempo

Ampulheta

O criador da matéria

a eterna definição de estados

Vivo na sua metamorfose

desvaneço num dos seus momentos

Sem tempo, não nasço nem emano um último suspiro

 

Com tempo ergue-se um conquistador

Pelo tempo curva-se um imperador

Sem tempo a minha vida perde o agora

 

Esquecimento, a grande maldição Humana!

Essa obsessão por sarar feridas,

o enterro emocional sem acto fúnebre

Só a despedida cura a raiva pelo tempo,

só a recordação preenche o tédio de segunda-feira

 

O filósofo gritava evolução

mas o tempo a voz levou

O historiador chorava a eterna repetição

o tempo repetido o torturou

 

Espreito entre as cordas de um grande manto

o tecido do espaço-tempo esconde a peça teatral

as eras, edificadoras do esquecimento ditatorial

Sem tempo, não materializei nem existo

 

Ladrão e fornecedor de pedras

evento de extinção de histórias em massa

Sísifo somos todos nós

Ícaro almejamos ser, criadores do relógio

desejando o tempo num transtorno obsessivo-compulsivo

só para queimar o ar como quem fuma vícios

numa correria por ilusões

Famosos e corpos ardentes

são agora cinzas para as sementes

 

Esquecer é a maldição humana

o tempo expulso da tribo regressa aquando da lição perdida,

julgamentos de quem não consegue escutar a música,

a dança perde o sentido, a vida o propósito, a alegria a cor,

após a recordação segregar-se em areia na ampulheta do esquecimento

e o agora perdemos em nome da melancolia

 

Podes aprisionar um búzio,

escutar o mar longínquo

mas o salgado do beijo,

o que imaginavas em tua pele,

os perfumes naturais confundidos 

é sempre distinto em cada momento repetido

A tua companhia, imaginária ou real

mesma espuma, mesma maresia

o mesmo sol, a mesma areia

e o agora é sempre distinto

por mais que o desejes repetir

 

O agora é uma nova adição à teia do passado

o futuro, um reflexo no espelho do agora em metamorfose

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Nasci, cresci e vivo nos planaltos de Vila Maior, São Pedro do Sul, distrito de Viseu com vista privilegiada para diversas cordilheiras montanhosas. Comecei a escrever poesia em 2005 como forma de escapar à realidade pesada da minha timidez. A natureza, o primeiro fogo da paixão e a necessidade de exprimir injustiças sociais despertaram a minha mão esquerda a escrever como se a minha existência dependesse de tal ação. Enquanto adulto, comecei por trabalhar muito cedo, fui pai muito novo e de todo um tumulto social renasce uma paixão: pensar sobre o que me rodeia, mas em vez de definhar decidi filosofar e nunca mais parei até hoje. Nasceram dois livros de poesia, “Mente (des)Concertante” por parte da editora Poesia Fã Clube e “O Fluxo da Vida” editado na plataforma Amazon. Só mais tarde, licenciei-me em Engenharia Informática pelo Politécnico de Viseu em 2017. Atualmente entre programar computadores e linguagem humana para conseguir alcançar uma transformação social pela filosofia, sou pai, marido, filho e agricultor como forma de alimentar corpo e alma. Estou pela primeira vez a romper a minha timidez e a expor-me nos meios de comunicação social e em comunidades literárias.

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O renascer da arte a brotar do Interior e a florescer sem limites ou fronteiras. Contos, histórias, narrativa e muita poesia.

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