O criador da matéria
a eterna definição de estados
Vivo na sua metamorfose
desvaneço num dos seus momentos
Sem tempo, não nasço nem emano um último suspiro
Com tempo ergue-se um conquistador
Pelo tempo curva-se um imperador
Sem tempo a minha vida perde o agora
Esquecimento, a grande maldição Humana!
Essa obsessão por sarar feridas,
o enterro emocional sem acto fúnebre
Só a despedida cura a raiva pelo tempo,
só a recordação preenche o tédio de segunda-feira
O filósofo gritava evolução
mas o tempo a voz levou
O historiador chorava a eterna repetição
o tempo repetido o torturou
Espreito entre as cordas de um grande manto
o tecido do espaço-tempo esconde a peça teatral
as eras, edificadoras do esquecimento ditatorial
Sem tempo, não materializei nem existo
Ladrão e fornecedor de pedras
evento de extinção de histórias em massa
Sísifo somos todos nós
Ícaro almejamos ser, criadores do relógio
desejando o tempo num transtorno obsessivo-compulsivo
só para queimar o ar como quem fuma vícios
numa correria por ilusões
Famosos e corpos ardentes
são agora cinzas para as sementes
Esquecer é a maldição humana
o tempo expulso da tribo regressa aquando da lição perdida,
julgamentos de quem não consegue escutar a música,
a dança perde o sentido, a vida o propósito, a alegria a cor,
após a recordação segregar-se em areia na ampulheta do esquecimento
e o agora perdemos em nome da melancolia
Podes aprisionar um búzio,
escutar o mar longínquo
mas o salgado do beijo,
o que imaginavas em tua pele,
os perfumes naturais confundidos
é sempre distinto em cada momento repetido
A tua companhia, imaginária ou real
mesma espuma, mesma maresia
o mesmo sol, a mesma areia
e o agora é sempre distinto
por mais que o desejes repetir
O agora é uma nova adição à teia do passado
o futuro, um reflexo no espelho do agora em metamorfose