Em novembro, a Lusa noticiava que o concelho de Vinhais era dos piores servidos no que respeita a rede móvel e Internet. Há dias surgiu novamente uma notícia da Lusa relativa a testes que a Anacom (Entidade Nacional de Comunicações) fez às redes móveis no concelho de Bragança que indicam que há populações que nem para ligar para o 112 têm rede. Na altura das aulas à distância tivemos notícias de uma aluna em Vimioso que tinha que se deslocar de casa para poder assistir às aulas. Fazem-se notícias, fazem-se testes, mas tudo continua igual. Percorremos a IC5 e não conseguimos ter rede seguida durante 10 quilómetros. Na A4, por curiosidade, há rede em quase todo o troço, menos ao passar pelas cidades de Mirandela e Macedo de Cavaleiros.
Os de cá já sabem disto há muito. Estes estudos vêm apenas dar a certeza dos números a uma realidade que enfrentamos diariamente. Porque se tirarmos as cidades e vilas da equação (e nem em todas as vilas a rede é de qualidade), em muitas das aldeias tem que se subir a um penhasco para ter rede e noutras nem isso. Num mundo ligado, temos pessoas desligadas do mundo, não por opção, mas porque lhes é imposto isso.
Falamos de um serviço essencial nos tempos que correm, seja de rede móvel ou internet. Aliás, com a pandemia, quantas coisas não passaram a ser feitas online, algumas até exclusivamente. Que dizer a estas pessoas que têm que andar quilómetros para ter rede ou para fazer upload de um documento para a segurança social ou outra coisa qualquer?
Quanto às operadoras, a partir do momento em que se decidiu privatizar a PT, atual MEO e entregar ao privado os destinos da rede móvel e de Internet seria óbvio que ficaríamos para trás, porque prevalece a teoria habitual do privado, o lucro. Como no distrito de Bragança, nomeadamente nos locais mais isoladas há menos população, há menos rentabilidade e logo menos interesse em resolver o problema.
São precisas soluções, soluções efetivas, que garantam que estas pessoas têm o mesmo direito de poder estar contactáveis que qualquer cidadão ou cidadã de uma cidade, que podem estar em teletrabalho se tiverem a sua casa numa aldeia porque a rede de Internet os serve, que possam decidir viver aqui sem estes chutos consecutivos para o Litoral.
Discute-se muito o porquê de as pessoas não quererem viver aqui…Será por ser um dos locais mais seguros do mundo? Será pelas brilhantes paisagens do Douro ou do Parque Natural de Montesinho? Será disso que as pessoas fogem?
Não, as pessoas são empurradas a procurar outro sítio onde viver quando nem sequer conseguem ligar para o 112 porque não têm rede, quando têm que ver os filhos acordar às 6 da manhã para frequentar uma escola que fica longe, quando não têm creche onde os deixar, quando têm que projetar o seu dia a pensar como vão fazer para deixar os filhos na escola, o marido ou a mulher no trabalho e ir para o seu próprio trabalho, porque apenas têm um veiculo para toda a família e vivem num distrito em que quando falamos de transportes as opções são ir de carro ou ir a pé.
Jóni Ledo, de 32 anos, é natural de Valtorno, concelho de Vila Flor. É licenciado em Psicologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, instituição onde também concluiu o Mestrado em Psicologia da Educação. Frequenta atualmente o 3ºano da Licenciatura em Economia na mesma instituição. Foi Deputado na Assembleia Municipal de Vila Flor pelo BE entre 2009 e 2021. É ativista na Catarse | Movimento Social e cronista no Interior do Avesso. É atualmente dirigente distrital e nacional do Bloco de Esquerda. É atualmente estudante de Doutoramento em Psicologia Clínica e da Saúde na Universidade da Beira Interior.