‘mercado das letras’
[aos pescadores da palavra]
entrei pelo mar adentro
lancei isco à poesia.
e nas marés
de ditongos
deixei-me pescar
pela rima.
foi naquela madrugada,
já de sílabas escamado
que eu profundo
mergulhei,
nos vocábulos
de um pescado.
e é assim abalroado
escrito na essência das lotas,
seja dia ou seja noite
que remo por todas as rotas.
na(s) letra(s) de uma peixeira
deixei-me encantar sem tretas
numa canastra de textos
lá no mercado das letras.
‘camarim do silêncio’
remeti-me à serenidade
do meu lugar.
voltei para dentro de mim.
vi reflectido no espelho
desta vez fiquei-me
pela ténue luz
o silêncio do escuro.
do meu interior.
quase adormecido.
sinto que entrarei
melhor no palco.
espero.
paciente.
pelo pautado
alarme de Molière.
quando o 3º toque chegar,
darei ordem ao camarim.
então o meu pequeno quarto,
entrará em cena.
e aí, as portas do teatro,
vão abrir,
só para
mim.
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