A luta que tem de ser

A luta tornou-se algo inerente a todos os dias, tomando forma e consistência. Hoje quando me perguntam “para quê?”, com um ar desdenhoso, já não fragiliza de modo algum as minhas ponderações.

Quem nos dá uma verdadeira lição de luta com convição são, por exemplo, Elizabeth Teixeira, a viúva do líder camponês brasileiro João Pedro Teixeira, cuja vida e luta é tão bem retratada no filme de Eduardo Coutinho “Cabra Marcado Para Morrer”; ou ainda as vítimas do franquismo em Espanha, numa forte mensagem de de Almudena Carraceno e Roberto Bahar, em “O Silêncio dos Outros”. Então reparamos que a luta é tão atual e que a luta tem que ser persistente.

Por isso, quando fui confrontada com a possibilidade de integrar a lista de candidatas e candidatos ao parlamento Europeu, fiquei realmente muito feliz, sem contudo ficar deslumbrada, mas consciente de que estar com todas e todos neste projecto, implica um trabalho incessante.

Ser candidata, implica não só aproveitar todos os instantes para estudar e compreender os mais complexos mecanismos europeus, mas também fazer o trabalho de mobilizar para a luta cada um e cada uma, quase num trabalho personalizado.

Precisamos inevitavelmente conciliar as nossas múltiplas e facetadas realidades pessoais, como trabalhadoras, mães, cuidadoras… com uma atividade política persistente, rigorosa e empática.

Aqui, na nossa terra, a terra que os nossos avós romperam, transformando as fragas em solos agrícolas, no tempo em que só os senhores eram proprietários e só os senhores tinham poder, hoje persistir e marcar presença como força política no nosso território, significa também romper os mecanismos do poder local e dar confiança às pessoas para não terem esse medo instituído e saírem do jugo da pressão quase feudal que as torna coniventes com as injustiças.
É preciso perceber o passado, conhecer os factos históricos e fazer uma análise crítica da realidade.

Temos que perceber que estas são as terras onde as gerações mais antigas tiveram vidas sofridas, e as gerações actuais não têm vidas melhores, apesar de um batalhar constante das gerações anteriores os descendentes continuam a enfrentar a pobreza.
Temos que encarar o facto de que esta é a terra dos que ficaram, dos que partiram e voltaram, dos que ainda querem voltar e não conseguem porque faltam as condições para isso. Mas, também dos que vieram de fora se transformaram e transformaram ao trazer com eles outros modos de estar. Precisamos aceitar todos que o mundo, a vida… são cheios de diversidade e interculturalidade.

Na verdade, as pessoas que habitam Trás-os-Montes, percebem essa diversidade, nomeadamente nas terras da raia, sempre viveram em estreita convivência e cooperação com as povoações vizinhas espanholas.

Assim, considero, sem qualquer dúvida, que é de cooperação e de solidariedade entre povos que temos de falar quando falamos de Europa. É esse projecto de Europa que queremos e com o que cresci a sonhar.

Fazer parte da lista da Marisa Matias às Europeias é falar às pessoas em campanha de quem é a Marisa, de quem são os candidatos e as candidatas, falar dos percursos e da atividade de cada um e uma, é criar essa empatia com as pessoas, e sim, é falar ao coração das pessoas, antes que outros lhes falem ao ódio e à ira e as confundam!
O discurso do pobre com inveja do miserável penetra nas mentes como os adubos tóxicos pelas raízes das plantas em solos pobres.

O que é importante, é falar às pessoas que o trabalho da Marisa Matias no parlamento Europeu foi intenso e diversificado, não só pelo número de perguntas, pareceres ou relatórios, mas pelo teor e pela intenção dos mesmos e como isso implica nas suas vidas.

Temos que incansavelmente chegar a todas as pessoas, com ar afável, remetendo para longe o cansaço, e dizer às pessoas, na linguagem mais clara possível que a Marisa esteve presente no combate das desigualdades, no apelo ao aumento do investimento nos serviços públicos, no combate ao desemprego, na aposta pela educação e formação ao longo da vida.

É preciso dizer coisas concretas, com implicações nas suas vidas.
Falar da luta da Marisa Matias, pela implementação de políticas fiscais, que têm em conta as desigualdades de rendimento e de riqueza. Explicar que combater a fraude e evasão fiscal é importante, porque, quando os que mais têm fogem aos impostos isso afecta directamente os recursos disponíveis para os serviços públicos.

Temos que explicar às pessoas que a Marisa esteve no combate às alterações climáticas e na luta pelo ambiente, por um planeta sustentável – porque para já só temos este para morar. E esteve, quando, presente na criação de um mecanismo de monitorização e de comunicação de informações sobre emissões de gases com efeito de estufa e de outras informações relevantes no que se refere às alterações climáticas – porque abater árvores é tão mau como emitir gases com efeito de estufa.

Precisamos explicar que a Marisa Matias esteve presente no combate à pobreza energética, atenta às dificuldades das pessoas para manterem as suas casas quentes.

As pessoas sabem que a Marisa Matias esteve no programa de entretenimento das manhãs da TVI, mas não sabem que teve uma palavra a dizer acerca da cobrança coerciva de portagens em Portugal.

É preciso que elas percebam que o Bloco de Esquerda sabe como as portagens nos fazem ficar mais longe e isolados, como a sua cobrança é injusta e a penalização do seu não pagamento manifestamente desproporcional face aos prejuízos sofridos pelas concessionárias.

As pessoas sabem que a atual Europa é criadora de injustiça e desigualdade. Esta Europa persegue um fundamentalismo económico, em vez de um desenvolvimento sustentável, tem uma obsessão com um crescimento a todo custo, um crescimento desigual que cria pobreza.

É a Europa em que os países com economias mais fortes acabam por beneficiar das economias mais frágeis e sobre-endividadas, e estas não têm contrapartidas disso.

Onde os condicionalismos impostos põem em risco o acesso garantido aos bens comuns por parte de todos e todas, bens essenciais como a água, a saúde bens digitais, a cultura, a habitação, a educação entre outros, não podem deixar de estar acessíveis, independentemente de quem detenha a sua propriedade, daí o risco da privatização.

Nesta Europa falta o ambiente, o social e falta solidariedade. Falasse em “fortalecimento da justiça” e falasse em investimento bélico, mais do que o saber viver juntos – Nós sabemos que não são os povos que querem guerra, são os poderosos, os que tiram proveito da comercialização de armamento e da submissão dos outros para extorquir os seus recursos.

Precisamos do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu, precisamos da Marisa, do José Gusmão, do Sérgio Aires, da Anabela…e de todas e todos quantos possíveis na contestação à austeridade, e aos diplomas/políticas europeias que lhe serviam de suporte.

As pessoas precisam perceber que no Bloco de Esquerda trabalharmos, todas e todos, lado a lado, os que somos militantes, os que somos ativistas, os estão e os que não estão nos órgãos de decisão, os que melhor dominam os conceitos e os que lutam com convicção junto das populações, nos movimentos.

Somos um grupo de pessoas diversificado, representado pelo norte pelo sul, pelo litoral pelas ilhas e pelo interior. Aqui, acreditamos realmente na construção de um mundo melhor que se traduz em bem-estar das pessoas.

As pessoas precisam saber que qualquer que seja a situação, a nossa luta e a nossa decisão será sempre aquela que traga condições para todas e todos em equilíbrio e harmonia com o nosso habitat, preservando a planeta, onde queremos que as próximas gerações continuem a viver com qualidade.

O que queremos baseia-se em coisas concretas como direitos do trabalho e estado social, desenvolvimento económico e a transição energética, liberdade, igualdade, para a construção de uma Europa com a que crescemos a acreditar. Por isso, é preciso votar dia 26 de Maio e é preciso votar Marisa Matias e Bloco de Esquerda.

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Nasceu em Chaves no ano de 1979.
Licenciada em Ensino Biologia-Geologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, no ano de 2001. Mestre em Ciências de Educação - Especialização em Animação Sociocultural pela UTAD. Frequentou o 2.°ciclo do curso Bietápico de Licenciatura em Engenharia do Ambiente e do Território do Instituto Politécnico de Bragança.
Lecionou, como docente contratada do grupo de Biologia e Geologia, em várias escolas do país.

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