Sentou ao meu lado, mas só mais tarde percebi que ia subir ao estrado e era o orador principal. Antes tínhamos conversado sobre trivialidades e percebemos que éramos ambos transmontanos. Falei-lhe das minhas inquietações sobre a região e ele dos eternos problemas da mesma. No final disse-me
Desde aí reafirmei a minha vontade, não de dar valor às fragas, mas de demonstrar que as terras e as gentes daqui têm imenso valor.
Defender os direitos e os anseios das populações é o expetável e o desejável por parte do poder local. Mas, as populações ficam um pouco confusas quando se continuam a deparar com as dificuldades concretas do seu quotidiano as quais parecem não ser do interesse de ninguém. Há um descrédito generalizado no poder da democracia, as pessoas não entendem o intrincado esquema de decisão que parece alhear das causas que importam – que nos importam.
A apatia da população tem certamente uma razão. O povo está sereno porque está farto, o povo é sereno porque se afastou de um assunto que lhe parece cada vez mais absurdo e menos sério. O povo não quer saber de debates em seu nome, quando ele não é realmente debatido. O povo vive numa espécie de serenidade porque se alienou.
O debate perdeu credibilidade e para as pessoas é como se não existisse. Mas, a questão é que enquanto as pessoas se alienam da discussão, em torno dos mais variados aspetos, as decisões que vão afetar as suas vidas e os seus territórios, tomam lugar. Por isso é importante que as pessoas percebam que só há democracia local se as cidadãs e os cidadãos participarem na vida local, não apenas sendo eleitos ou elegendo os órgãos deliberativos, mas também sendo informados sobre assuntos da comunidade local ou assistindo a reuniões públicas, como assembleias de freguesia e municipais, e intervindo nas mesmas em períodos reservados a esse efeito. A participação ativa das cidadãs e cidadãos tem a dupla função de reforçar o sentimento de pertença à comunidade e expressar a sua vontade e a necessidade.
Hoje percebemos que a realidade do despovoamento resultou de um acumulado de más decisões e um certo egoísmo dos órgãos de decisão que insistem em não pensar no futuro. É de lamentar que as políticas aplicadas não tenham evitado o despovoamento, que não tenha sido incentivada a criação de emprego e a criação de condições para as pessoas desejarem permanecer ou se instalar no interior. Os autarcas deviam ter resistido ao encerramento de escolas e outros serviços públicos, deviam-se ter procurado soluções reais para cada situação. As soluções criativas têm que surgir nos locais e com as pessoas na base da colaboração e suprimindo o individualismo. As pessoas precisam acreditar que a sua aldeia e a sua cidade lhes pertencem e fazem parte delas. Urgem medidas para repovoar o interior e anda-se à procura de soluções milagrosas.
Enquanto isso perguntamos: Os encerramentos dos diversos serviços públicos, têm prevista alguma possibilidade de reabertura, caso as medidas criadas permitam repovoar e incrementar a população do interior? Será que continuar a encerrar escolas, serviços de saúde, justiça, entre outros, vai contribuir para o repovoamento? E agora, depois de ter sido desmantelada a ferrovia, como vamos promover uma mobilidade competitiva e ambientalmente sustentável?
Há quem pense que a solução para impulsionar os territórios do interior passa obrigatoriamente pelo desenvolvimento turístico das regiões. Contudo, não podemos cair no erro estratégico de outras localidades e apostar apenas na implementação de unidades hoteleiras e empreendimentos explorados por consórcios, que gradualmente se apropriam da riqueza patrimonial, cultural e natural dum local. Estruturas que apenas são frequentadas por algumas elites ou classes com poder económico. Será importante cativar investimento, mas temos que ser perspicazes e preocupados não só com a felicidade que podemos proporcionar aos que vêm de fora, mas também com a qualidade de vida e a felicidade dos que cá residem. O investimento no turismo será certamente bem-vindo, mas é preciso pensar no tipo de turismo que queremos, prevenindo a invasão da comunidade, do espaço público e da esfera privada das pessoas.
É preciso cativar investimento que promova empregos não precários e que respeite o nosso património, a nossa cultura e o nosso ambiente.
Nasceu em Chaves no ano de 1979.
Licenciada em Ensino Biologia-Geologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, no ano de 2001. Mestre em Ciências de Educação - Especialização em Animação Sociocultural pela UTAD. Frequentou o 2.°ciclo do curso Bietápico de Licenciatura em Engenharia do Ambiente e do Território do Instituto Politécnico de Bragança.
Lecionou, como docente contratada do grupo de Biologia e Geologia, em várias escolas do país.