Já vos falei neste espaço, Interior do Avesso, de temas como o trabalho, a apicultura e mais recentemente a Covid 19, hoje irei misturar estes três temas, que a meu ver estão bastantes ligados. Pois bem, os tempos que vivemos, por culpa da pandemia, causaram alterações profundas no que diz respeito ás rotinas diárias, pessoais e laborais, as mudanças são enormes, mas no meio de tanta alteração devemos refletir e observar o que se está a passar à nossa volta. Climaticamente o estado de emergência decretado em muitos países também provocou alterações, neste caso positivas, muitas são as notícias que o referem. Mas não nos podemos esquecer que se trata de uma pandemia, e como todas as outras a sua passagem deixará uma marca de destruição. Comecemos então por falar na destruição laboral…
Os trabalhadores foram obrigados a parar, muitos empurrados para lay off, outros diretamente para o desemprego, muitas destes lay off vão ser transformados em despedimentos encerrando empresas que até aqui apresentaram bons resultados, empresas que distribuiam lucros pelos seus acionistas deixando de fora quem verdadeiramente contribuiu para tão bons resultados, os trabalhadores. As família viram os seu rendimentos serem reduzidos ou suprimidos, muitos pelo encerramento das escolas foram obrigados a ficar em casa por não terem soluções alternativas. O mercado do petróleo caiu como nunca foi visto, certamente irá criar mais desemprego.
Mas esta paragem tem tido pontos positivos no ecossistema, por exemplo, as abelhas por ser primavera trabalham árdua e alegremente, e pelo que tenho visto, este ano trabalham como já não se via a alguns anos, o clima está mais parecido com o de antigamente e isso vê-se na sua atividade. A produção corre bem e tem tudo para ser boa, temos pólen, temos exames novos e mel, claramente temos uma primavera com tudo o que deve ter, calor, chuva, trovoadas e muita flor, certamente influenciada pelo isolamento social que fomos obrigados a fazer.
Ninguém nem nenhum país estava preparado para lidar com um vírus de escala mundial, algo que na vida social e laboral agitada que vivemos não era equacionado como possibilidade. Todos estamos a assistir de forma impotente ao seu avanço e aos seus números trágicos, não sabemos com certeza absoluta quando teremos a solução, e se será uma solução permanente, para já o distanciamento social mostra-se como sendo a medida mais eficiente para travar a progressão do vírus, e nos países mais cumpridores vemos os resultados positivos.
Com todos este dados poderemos afirmar com alguma certeza que teremos de fazer mudanças de forma permanente, e nestas mudanças o interior do país poderá ser a chave do sucesso. Com o desemprego no litoral a aumentar muitos desempregados poderão ver na terra uma forma mais sustentável de criar a sua independência laboral e verem um justo reconhecimento pelo seu trabalho. A deslocação para o interior levará no litoral a uma redução dos grandes aglomerados populacionais, o que certamente trará menos poluição e um abrandamento de consumo, logo menor desgaste no nosso planeta.
No interior, a agricultura e outras atividades como por exemplo o turismo sustentável, é com toda a certeza uma solução para a criação de emprego, é uma contribuição para o equilíbrio da nossa balança comercial com o aumento de produção alimentar, e o mais importante de tudo um melhoramento claro na qualidade de vida familiar onde se substitui a agitação do litoral pela calma do interior. Devemos aprender com esta crise e ver nela a oportunidade de mudança que ela nos dá. Além de evitar o contágio a quarentena tem feito bem ao planeta, por isso devemos pensar em mudar, temos de ter a coragem para fazer a mudança que se impõe….
Nasceu em Mirandela em 1976 e viveu em Trás-os-Montes até aos 18 anos, altura em que foi para o Porto estudar piano. Licenciado em produção e tecnologia da música na ESMAE.
Em 2003 entrou na RTP Porto como técnico de som. Esteve com vínculo precário até 2008. A luta por um vínculo laboral justo fez-lhe ganhar interesse pela defesa dos direitos laborais...atualmente está no SINTTAV ( Sindicato nacional dos trabalhadores de telecomunicações e audiovisuais), na qualidade de delegado sindical, e na coordenador da Comissão de Trabalhadores da RTP, entre outras organizações de activismo laboral.
Nunca perdeu a ligação a Trás-os-montes, onde desenvolve como hobby a apicultura e agricultura.