Introduzo a chave à primeira nas ranhuras da fechadura
Arrasto a porta de dura madeira empenada e entro
Na escuridão do passado ali vivido.
Acendo o isqueiro até alcançar a janela
Abro a portada para a luz desenhar a cor nas paredes.
Pelo soalho fica imprimida a sola das sandálias
Na camada de pó coalhado durante anos numa tela acamada de medo.
Através da vidraça vejo as Dálias serem beijadas pelo Sol com ternura
Respiro fundo, abro o espírito a tantas intenções abençoadas de luz brilhante e quente.
Fico invadido por emoções que antigamente pus num vaso de vidro
Agora não consigo ensinar o caminho ao diabo
Saio pela janela para cheirar as cores das flores ensolaradas.
Guardo no bolso a chave da porta
Voltarei noutra era
Na mesma primavera.