Continuo a não saber nada de mulheres, mas nem nunca percebi de pessoas. Os alcoólicos são sempre os mesmos, por mais anónimos que sejam; os arrogantes sempre os mesmos; os bondosos sempre os mesmos; as mulheres são quase sempre as mesmas, até os rostos parecidos, a roupa a mesma… o hábito que vestem e dividem. E o sexo é uma troca de suores como outra, uma trabalheira animalesca desnecessária, apenas para aliviar um impulso natural. Conhecerão a masturbação?
As pessoas tornaram-se demasiado previsíveis.
Um anjo negro virá numa corsa puxada por 45 cavalos ao som de Tchaikovsky. Muitos lhe cuspirão, outros cuspir-lhe-iam na sombra se a encontrassem – estava guardada nos seus olhos.
E eu estava cheio de dores ali na casa de banho. Adormeci assim, à luz de uma lâmpada trémula, deitado, encolhido, com as calças e os bóxeres arregaçados até aos pés, todo borrado. Dormia depois de ter borrado a sanita, o chão e as minhas pernas por inteiro. Não de todo de uma vez, mas numa cadência decadente em sofrimento. De deitando o meu corpo nas minhas pernas nuas assentes na sanita, até ao chão gelado que recebia com algum conforto – o suficiente para me embalar.
Agora sorrio ouvindo a melodia da dança da fada do açúcar de Tchaikovsky, enquanto o meu corpo sucumbe como todos os outros.
Cheirava a suor e a merda… Cheirava à vida!
(este texto ficcionado, como todos os outros, não devem ser confundidos com opiniões do autor que, aqui, são irrelevantes)