A ascensão da extrema-direita em Trás-os-Montes IV

Foto de Robert Thivierge Flickr
Foto de Robert Thivierge | Flickr
O discurso de partidos populistas, como o Chega é direcionado para classes específicas: começou nas forças de seguranças e hoje está nos enfermeiros. Num tom ameaçador e contagioso, ataca os representantes daquilo a que ele chama de “sistema”, os membros do Governo, a Assembleia da República e todas as instituições da República.

Focando agora a nossa análise da ascensão da extrema-direita em Portugal, tinha já chamado a atenção numa crónica anterior que existe uma pandemia que insiste em não desaparecer: a pandemia da despovoação, a pandemia do encerramento dos serviços públicos, a pandemia das desigualdade. Enfim. Tantas pandemias por que passamos todos os dias. O Bloco de Esquerda fez questão (e bem!) de voltar a tocar no assunto da pobreza energética em Portugal: quase 19% da população passa frio em casa, 24% das casas em Portugal têm humidade e infiltrações, 75% das casas em Portugal não têm conforto, aquecimento e os portugueses pagam a energia mais cara da Europa. 

O discurso de partidos populistas, como o Chega é direcionado para classes específicas: começou nas forças de seguranças e hoje está nos enfermeiros. Num tom ameaçador e contagioso, ataca os representantes daquilo a que ele chama de “sistema”, os membros do Governo, a Assembleia da República e todas as instituições da República. Raramente apresenta soluções, falta às votações que são importantes para a nossa democracia e enaltece o “português de bem” contra a “elite corrupta”. Se voltarmos a 1921, Adolf Hitler tinha ao seu lado um batalhão de assessores que alimentou a propaganda nazi, aliada à organização paramilitar alemã (a chamada Tropa de Proteção) e o apoio das classes mais altas da sociedade. É assim que Hitler chega a líder do partido Nazi e é assim que Hitler ascende ao poder, culminando no Holocausto. Esta tríade que levou Hitler ao poder reforçou a ideia de que os benefícios para os alemães iam aumentar, o que fez com que a classe rural e as classes baixas urbanas fossem indiferentes à matança. Ora, emerge daqui um sentimento de indiferença em relação ao mal e o mal torna-se banal. 

É aqui que devemos concentrar as nossas forças. Não deixar emergir um sentimento de ódio entre o povo e não deixar que o mal divida para que possa reinar. É daqui que nasce o Chega. O mecanismo é o mesmo: financia-se nas mais altas instâncias da alta sociedade (como o império das Tintas Barbot, sociedades de advogados e patrocinadores ligados ao futebol, como o ex-cônsul-honorário de Portugal na Flórida), tem o apoio dos milionários ligados ao negócio das armas e usa as redes sociais como forma de propaganda para alimentar o sentimento de ódio para dividir o povo.

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Linguista, investigador científico, feminista e ativista social.
Nascido em Lisboa, saiu da capital rumo a Terras de Trás-os-Montes e cedo reconheceu o papel que teria de assumir num interior profundamente desigual. É aí que luta ativamente contra as desigualdades sexuais, pelos direitos dos estudantes e dos bolseiros de investigação. Membro da Catarse - Movimento Social, movimento que luta contra qualquer atentado à liberdade/dignidade Humana. Defende a literacia social e política.
(O autor segue as normas ortográficas da Língua Portuguesa)

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