No dia 8 de Março (8M), o Dia Internacional das Mulheres, pelo menos doze cidades em Portugal vão encher-se de feministas unidas contra a opressão, “sem medo, por todas as companheiras de luta, pelas que já cá não estão e pelas que hão-de vir!”, lê-se na convocatória do 8 de Março.
“No ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, reforçamos o compromisso de que não daremos nem um passo atrás! (…) Saímos à rua pela liberdade de todas, pos somos Feministas em união contra toda a opressão!”.
Este ano, o 8M ganha especial significado por se realizar no ano das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e por acontecerem precisamente no último dia da campanha eleitoral, às legislativas de 2024.
O movimento feminista nacional que convoca este 8M apela a que no dia 10 de março se vote contra o machismo, “pela manutenção da democracia, para fazer cumprir Abril, por todas e para todas! Lado a lado, ninguém larga a mão de ninguém”.
O manifesto nacional fala das mulheres imigrantes, racializadas e de etnia cigana, das que sofrem violência sexual, das trabalhadoras domésticas e das cuidadoras, das pessoas LGBTQIAP+ que sofrem discriminações, das que sofrem violência obstétrica, das mulheres afectadas pela crise climática e das mulheres da Palestina.
No interior, Viseu volta a juntar-se à causa internacional, com a Plataforma Já Marchavas a convocar uma manifestação para o dia no Mercado 2 de Maio, a partir das 17h30. O manifesto deste movimento social pode ser subscrito aqui.
“As Mulheres são símbolos de resistência, de sobrevivência, de luta e representam o feminismo em que toda a gente deve ser respeitada em igualdade e equidade de direitos”, começa assim o manifesto da Plataforma.
“Filhas e netas das mulheres beirãs não deixamos nenhuma luta para trás.” & “Queremos ser ouvidas!”
Inês Antunes, cabeça de lista do Bloco de Esquerda por Castelo Branco, lembra que “nem todas as conquistas alcançadas ao longo destes 50 anos de democracia podem ser dadas como garantidas.”
“É dia de lutar pela continuação do progresso, pelo direito à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), pelo fim da violência de género e do assédio no espaço público. Na Beira Baixa, a par da realidade do país, existe ainda uma enorme disparidade salarial em função do género, que faz com que as mulheres recebam, em média, cerca de 147€ a menos do que os homens.”
“Mantêm-se as desigualdades no acesso e na evolução da carreira profissional, mantém-se a discriminação assente em estereótipos, como os relacionados com a parentalidade, afectanto principalmente as jovens trabalhadoras. E mantêm-se, sobretudo, os baixos salários em profissões e atividades maioritariamente desempenhadas por mulheres, como a de cuidadoras informais.”, alerta Inês Antunes.
Já a ativista Victoria Carolina, de Bragança, chama à atenção para os desafios que as cidades do interior, como Bragança, sentem em mobilizar para a própria organização de manifestações.
“A coincidência do Dia Internacional da Mulher com as eleições legislativas é uma oportunidade única para a população feminina fazer ouvir a sua voz politicamente. No entanto, o Núcleo de Bragança da Rede 8M enfrentou desafios que, em parte, foram devido à participação na campanha eleitoral da maioria das mulheres com interesse na sua organização, resultando em falta de recursos humanos para ações diretas. Para que estas dificuldades não voltem a ser sentidas, precisamos de mobilização das mulheres de Bragança que estão fartas de não ter nenhum controlo nas suas próprias condições materiais.”
“Apesar de tudo, conseguimos mobilizar alguns grupos de mulheres, mesmo que de uma forma menos radical que o desejado e arranjaremos forma do nosso manifesto ser ouvido nesta sexta-feira, ressaltando a urgência da união para preservar o peso político desta causa fundamental.”, conclui a ativista.
Beatriz Realinho, cabeça de lista do Bloco de Esquerda pela Guarda, alerta também para o facto de o acesso livre à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) não estar a ser respeitado.
“Existem ainda grandes dificuldades no acesso ao direito à IVG no distrito da Guarda pela falta da disponibilização de consultas prévias para a mesma. Porém, se queremos ser mães enfrentamos a realidade que é a falta de condições no acesso à maternidade. Faltam apoios às mulheres no aborto, na maternidade e depois da mesma, no acesso a cuidados, a creches, no trabalho e na sociedade. É necessário que exista nos territórios do interior um princípio de igualdade no acesso a cuidados de saúde, independentemente da zona de residência de cada uma de nós, para que quando se queira recorrer à IVG esta seja um direito, ou se escolhemos parir que a maternidade não tenha a porta fechada.”
Afirma ainda que por ser o ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril e o 8M acontecer no último dia de campanha, “é ainda mais importante votarmos como mulheres, pois não deixamos que nos interrompam naquela que é a nossa liberdade.”
“Filhas e netas das mulheres beirãs não deixamos nenhuma luta para trás.”
A professora universitária Anabela Branco de Oliveira, de Vila Real, reitera que as mulheres são “feitas de montanha e de pedra! Somos feitas de esperas e de sonhos. Somos feitas de lutas e de esquecimentos. Somos feitas de isolamentos, de desertos e de preconceitos que nos magoam e que nos empurram para abismos desnecessários. Pela liberdade, sabemos voar. Pela liberdade, sabemos gritar. Pela liberdade, queremos exigir, queremos lutar, queremos marchar e fazer, sempre, o que nunca foi feito. Porque está na nossa essência escalar os impossíveis!”
Para Mariana Silva, performer e coreógrafa, de Viseu, lembra a importância de nos lembrarmos das conquistas que Abril nos trouxe e do muito que ainda está por fazer.
“50 anos depois do 25 de abril e hoje, mais do que nunca, temos de voltar a ir para a rua e fazermo-nos ouvir. São constantes as manifestações misóginas, de ódio, preconceito e que vemos acontecer por todo o país. Nesta sexta-feira, 8 de março, devemos reafirmar a nossa posição de força e de progresso, devemos relembrar tudo o que abril nos trouxe, mas também tudo o que ainda nos falta fazer.”
“Dar voz à intersecionalidade e falar sobre todas nós: migrantes, negras, trans, cis, brancas, ricas ou pobres. Mostrar que no centro do país também vive gente. Mostrar ao parlamento, agora em época de eleições, que o centro do país cresce e que nele surgem novas necessidades, novos desafios e que ser mulher é difícil em todo o lado.”, vincou a artista viseense.
“Queremos ser ouvidas! O ódio tem ganho esta luta no último ano, mas não devemos deixar que os tempos voltem atrás. Devemos fazer renascer as mulheres de abril que vivem dentro de nós, fixar o ponto e evoluir. Ainda há tanto a fazer, vamos em frente!”, rematou.