Autarca de Viseu negoceia com Israel e provoca forte indignação pública

Fernando Ruas avança com acordos com Israel em meio a acusações de cumplicidade com o genocídio na Palestina.

O presidente da Câmara Municipal de Viseu, Fernando Ruas, reuniu com o embaixador de Israel, Oren Rozenblat, para firmar acordos na área da indústria da defesa. Esta iniciativa tem provocado forte indignação pública, tendo em conta as acusações internacionais de genocídio contra o Estado de Israel e o elevado número de vítimas civis palestinianas.

A decisão do autarca ocorre após o Tribunal Penal Internacional (TPI) ter emitido uma ordem de detenção contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. A Organização das Nações Unidas (ONU) condena de forma inequívoca a conduta de Israel, alertando para um extermínio em massa do povo palestiniano.

A Plataforma Já Marchavas lançou um manifesto em repúdio à reunião entre Fernando Ruas e o embaixador de Israel, considerando a autarquia cúmplice de um Estado apartheid e colonialista. O documento apela ao cancelamento imediato de qualquer tipo de negociação com Israel e exige que o município corte todas as relações institucionais e comerciais com o Estado israelita. Reivindica ainda o reconhecimento oficial do Estado da Palestina e a tomada de posição pública da autarquia a favor do seu reconhecimento por parte do Estado português.

O manifesto sublinha que o Governo espanhol e a Câmara Municipal de Barcelona cortaram relações institucionais com Israel. Acusa ainda Fernando Ruas de desrespeitar a memória histórica, tornando-se cúmplice de um novo holocausto. Recorda que mais de 54 mil pessoas foram mortas devido à ofensiva israelita, incluindo mais de 18 mil crianças, e que o número de feridos ultrapassa os 100 mil. Hospitais, escolas e todo o território da Faixa de Gaza têm sido alvo de bombardeamentos e destruição. A maioria das crianças amputadas em toda a História foi registada nesta ofensiva. A imprensa estrangeira está proibida de entrar em Gaza. Quase dois milhões de palestinianos encontram-se cercados, privados de comida, água e assistência médica, num cenário que as Nações Unidas compararam a um campo de extermínio.

As palavras do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reforçam a gravidade da situação ao afirmar: “Esta é a fase mais cruel de um conflito cruel”. Como consequência, mais de 57 crianças morreram de fome, segundo dados recentes da ONU e da Organização Mundial da Saúde. De forma semelhante, a Comissão para a Proteção dos Jornalistas revelou que 75% dos jornalistas mortos em conflitos em todo o mundo perderam a vida em Gaza. Na Cisjordânia ocupada, 981 palestinianos foram mortos desde outubro, incluindo 199 crianças, e 8.795 pessoas ficaram feridas. O manifesto denuncia: “Todo um povo é exterminado em silêncio. Todo um mundo num silêncio cúmplice.”

As declarações do embaixador israelita, recentemente entrevistado pela Rádio Renascença e pela CNN, agravaram a indignação pública. Oren Rozenblat rejeitou o termo genocídio, considerou “uma vergonha” tal afirmação e afirmou que “não há fome em Gaza”, negando os factos documentados de forma sistemática por várias organizações internacionais e meios de comunicação independentes.

“Todo um povo é exterminado em silêncio. Todo um mundo num silêncio cúmplice.”

A Plataforma Já Marchavas convocou uma ação de protesto e denúncia para sábado, 7 de junho, às 10h, no Rossio, em Viseu, com o lema “Negócios com genocidas? Não em nosso nome!”. A iniciativa afirma que o silêncio e a normalização de acordos com um Estado acusado de genocídio tornam cúmplices todos os que assistem calados.

A Câmara Municipal de Viseu não prestou esclarecimentos públicos sobre os termos da reunião nem sobre os contornos do possível investimento de Israel no concelho.

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