O tema da desigualdade salarial marcou a intervenção da coordenadora do Bloco de Esquerda durante o contacto com a população do Fundão na manhã de segunda-feira. No dia seguinte ao novo líder do PS ter prometido o aumento do salário mínimo para os mil euros no final da próxima legislatura, Mariana Mortágua apontou que o salário mínimo “tem aumentado a um ritmo insuficiente” e o que Pedro Nuno Santos veio propor é que esse ritmo passe a ser “inferior ao deste ano”. Para a coordenadora bloquista, “é preciso que os salários todos sejam arrastados pelo salário mínimo e uma das formas para o fazer são os leques salariais”.
Dando como exemplo empresas como a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, que apresentou 30% de aumento dos seus lucros nos primeiros nove meses de 2023, arrecadando 500 milhões, ou o caso da EDP que no mesmo período registou quase mil milhões de lucros, Mariana Mortágua diz que até agora “a contrapartida destes lucros são preços muito altos e salários muito baixos”.
“Há demasiados trabalhadores que ganham o salário mínimo nacional. Ao mesmo tempo, os gestores das grandes empresas do PSI20 fizeram aumentar os seus salários em 47%. Nesses mesmos dez anos os trabalhadores perderam em média 0,7% dos seus salários”, prosseguiu a coordenadora do Bloco.
Em concreto, “um trabalhador do Pingo Doce precisa de trabalhar 187 anos para ganhar o mesmo que o CEO ganha num ano. Há muita gente no Pingo Doce que ganha o salário mínimo nacional” e nesses casos o trabalhador “vai ter de trabalhar 300 anos para ganhar o mesmo que o administrador ganha num ano”.
Para acabar com esta desigualdade “são necessários leques salariais, medidas que não permitam que um administrador de uma grande empresa possa ganhar 100, 200, 300 vezes mais que o trabalhador. Uma das formas de o fazer é estabelecer que em Portugal o administrador de uma empresa não pode ganhar doze vezes mais que o trabalhador médio”, como propõe o Bloco de Esquerda, evitando assim que um administrador possa ganhar num mês mais do que um trabalhador da sua empresa ganha num ano.
“Se o administrador se quer pagar a si um salário milionário, então tem obrigação de subir os salários a todos os trabalhadores da empresa”, defendeu Mariana Mortágua, considerando que os leques salariais são uma forma de trazer igualdade e de subir os salários médios “em grandes empresas que apesar de terem lucros milionários, de pagarem aos administradores salários milionários, mantêm um exército de trabalhadores com o salário mínimo”.
Questionada sobre o discurso do novo líder do PS em relação à Saúde, Mariana Mortágua diz ter entendido desse discurso que “a política da maioria absoluta para o SNS é para continuar”. Mas o que é preciso, defendeu, é “uma viragem face ao que a maioria absoluta fez”, que se traduza em “melhores carreiras, melhores condições de trabalho, mais condições para atrair profissionais, e trabalhar com os profissionais em vez de se estar numa sistemática e permanente luta contra esses profissionais”.
Lembrando que “as eleições servem para eleger deputados, não primeiros-ministros”, Mariana Mortágua concluiu que “o que importa é se a seguir às eleições há ou não há maiorias para resolver o problema das urgências e dos baixos salários”. E é para garantir que essas maiorias existem que o Bloco promete trabalhar com o seu programa, com “diálogos, entendimentos, compromissos com medidas que façam uma viragem ao que a maioria absoluta fez”.
“Um projeto mobilizador e de esperança, é esse o projeto que vai derrotar a direita”, rematou a coordenadora do Bloco de Esquerda.
Notícia Esquerda.net