Da terra ardida ao despertar da consciência

Incêndios de 18 de junho de 2017 | Foto por NASA, MODIS, Public domain, via Wikimedia Commons
Incêndios de 18 de junho de 2017 | Foto por NASA, MODIS, Public domain, via Wikimedia Commons
Incêndios de 18 de junho de 2017 | Foto por NASA, MODIS, Public domain, via Wikimedia Commons
Os incêndios estão presentes e cada vez mais próximos da sociedade portuguesa, o imperativo aqui não é um exercício premonitório. Todos os anos a chegada do tempo quente traz consigo os incêndios. As constantes ocorrências, algumas sem grandes proporções contribuem para a naturalização de um fenómeno recorrente e de elevado risco, nomeadamente no âmbito natural e social. No dia 17 de junho de 2017, o incêndio que deflagrou em Escalos Fundeiros, concelho de Pedrógão Grande, era para ser mais um desses que relativizamos. Esse viria a ser o maior incêndio de sempre em Portugal. 

O incêndio deflagrado em Pedrógão Grande e que se alastrou a concelhos vizinhos foi o despoletar de uma tragédia coletiva, causou inúmeros “danos colaterais”. Provocou a morte de 66 pessoas e deixou 253 feridos, consumiu 53 mil hectares de território, destruiu mais de 500 habitações e 50 empresas. Para além das fatalidades, com perdas de vidas humanas e feridos, perdas de património, as sequelas de um incêndio florestal impõem externalidades negativas relacionadas ao custo social.  Os custos sociais dos incêndios florestais são mensurados levando em consideração quatro componentes: custo de prevenção; custo de supressão; perdas de bens e serviços; custo de recuperação de áreas ardidas. Dados da Comissão Técnica Independente (2017) indicam para o período 2000-2016 que os custos e perdas com incêndios florestais foram cerca de 6,6 mil milhões de euros. Relativamente aos incêndios de 2017, estima-se um custo social total de 613 milhões de euros, perderam-se aproximadamente 50% da riqueza anual produzida pelas florestas. Os prejuízos são volumosos em todas as áreas.

 Os incêndios florestais são fenômenos característicos da Europa meridional, ou seja, as características climatéricas são favoráveis para incêndios em Portugal. Essa junção, conjugada ao desordenamento e abandono do território, monoculturas de eucalipto e de pinheiro-bravo mais a falta de educação ambiental/florestal, plasmam-se em um ambiente de fogo. Nos últimos anos o mundo tem assistido um aumento nos números de ignições, nas dimensões e na duração da época de incêndios, que começam cada vez mais cedo e acabam mais tarde, Portugal acompanha essa tendência. As estratégias atuais de supressão dos incêndios em Portugal são cada vez mais dispendiosas, a exigir um número cada vez mais elevado de recursos humanos e equipas de bombeiros, equipamentos e até mesmo recursos de meios aéreos. Contudo, mesmo com a majoração de recursos disponibilizados, não se percebe a diminuição da incidência dos incêndios. Facto que evidencia a crescente necessidade de buscar novas estratégias, alternativas para travar a crescente ameaça dos incêndios florestais.

Passados quatro anos desde os fatídicos incêndios ainda há casas de primeira habitação a reconstruir. Muito foi prometido e pouco se cumpriu. Portugal assiste o julgamento para apurar as responsabilidades do incêndio. A ameaça de novos incêndios de proporções catastróficas existe. É preciso apontar o dedo para o despertar da consciência coletiva.

Figura 1. Propriedade ardida junto à estrada 236-1, incêndio florestal de Pedrógão Grande de 2017.

Fonte: Nolasco, Carlos. (2017). Terra queimada: portfólio do incêndio de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, Osiris- Observatório do Risco. Recuperado de https://www.ces.uc.pt/ficheiros2/sites/osiris/files/OSIRIS_Portfolio_Carlos_Nolasco.pdf

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Brasileiro de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Vive na Covilhã desde 2018. Gestor do ambiente, pós-graduado em Economia, é mestre em Sociologia: Exclusões e Políticas Sociais na Universidade da Beira Interior.

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