A diminuição da população resultante de diversos fatores não pode retirar direitos às pessoas que se mantêm fortes e resistentes ao manterem-se nesta região.
Uma floresta desgovernada com imensidões de eucaliptos e acácias que têm destruído até caminhos florestais que há décadas existiam. O encerramento de todos estes serviços que nos têm sido retirados. O estado está, muito rapidamente, a transformar o Interior num território inóspito e, brevemente, se tudo se mantiver, num território inabitável.
Com o calor que se verifica e observando a nossa paisagem é impossível ignorar que mesmo a nossa segurança está a ser comprometida neste exato momento. Já nem se trata apenas do nosso bem-estar ou qualidade de vida, é a saúde e a segurança de todos!
Todo este abandono traduz-se em maiores taxas de desemprego na região em que se é obrigado a optar, por vezes, por empresas, as maiores empregadoras, onde há relatos de alegadas faltas de condições de trabalho. Veja-se o exemplo de um desses empresários, dum grupo empresarial em que trabalham muitos dos que aqui estão presentes, que justifica a falta de mão-de-obra das suas fábricas afirmando, e passo a citar, “as pessoas preferem entrar nesses programas [referindo-se aos programas promovidos pelo centro de emprego] a ter um emprego” (Carlos Aquino). Ninguém pode ser obrigado a trabalhar onde não quer e onde, aparentemente e segundo relatos, as condições não serão das melhores. No entanto, a necessidade obriga a aceitar estes tipos de emprego.
Esta culpabilização da população é gravíssima e atenta até aos direitos conquistados pelos quais muito se lutou.
E, aqui em São João de Areias, não somos exceção. Mesmo dentro do nosso próprio concelho somos negligenciados.
O médico de família permanente e disponível a esta população tem sido muito prometido, mas apenas vemos uma entrada e saída de clínicos no nosso posto médico, aberto apenas algumas horas por semana num horário inconstante.
Ainda durante esta semana, várias foram as pessoas, com consultas marcadas desde há tempo considerável, reencaminhadas para a USF de Santa Comba Dão, devido a uma avaria na Internet que se previa manter. Resultado duma simples avaria: utentes ficaram sem a consulta naquele dia por lhes ser impossível a deslocação a Santa Comba Dão naquela hora.
O poder central e local tem-se mostrado ineficaz a responder a estes e outros problemas que muito nos afetam, protegendo-se no atrasar da construção duma nova extensão devido a burocracias. Extensão nova esta, dispendiosa, que não é garantido que tenha também um clínico permanente!
Ineficaz também na criatividade. Feiras demasiado ortodoxas, ruas vazias, pessoas descontentes…
Jovens, idosos, adultos e criança, estamos a ser todos afetados. Somos todos vítimas duma negligência cruel. Não podemos mais ficar imóveis a assistir e comentar. Vamos levantar-nos e lutar Lutar uns pelos outros! Lutar pela nossa terra, pelas nossas pessoas!
Esta é uma luta de todos! Esta é a hora!
Paulo Rodrigues, Santa Comba Dão, começou a escrever muito cedo.
Participou em várias coletâneas de poesia, prosa ou contos infantis organizadas por vária editoras como a "Orquídea Edições", "Lua de Marfim" e "Modocromia". Escreveu também por diversas vezes em edições "Sui Generis" e a prestigiada "Chiado Books".
Colaborou na organização da fanzine lançada em Santa Comba Dão, "Cabeça Falante", que inaugurou a editora recém-criada "Canhoto Esquerdino R", onde foi Assessor de Comunicação não remunerado.
É criador e administrador do blog "lagrimasdavida.blogspot.pt"