Parte da calçada romano-medieval existente na Campeã, concelho de Vila Real, foi destruída para fazer obras de saneamento da responsabilidade da Empresa Águas do Norte.
“Uma data negra que fica para a história”, diz a associação “Arquivo de Memórias”, que lamenta que em tempo útil não se conseguisse “um desvio de alguns metros no traçado das obras de saneamento que estão a decorrer no local, de maneira a salvar da destruição este importante património”.
“São cerca de dois milénios de história postos em causa num único dia: 3 de Agosto de 2020” diz a associação na sua página de Facebook onde tem feito vários alertas durante duas semanas para salvaguardar este património.
“Recorde-se que o conjunto viário da chamada Calçada do Arco (que tem vindo a atrair a atenção crescente de diversos estudiosos, pelas suas características únicas em toda a região de Trás-os-Montes e Alto Douro) integrava a antiga Via do Marão, que desde o período romano até ao século XIX assegurou a ligação do Interior ao Litoral”, dizem.
Segundo a Universidade FM, o presidente da Junta de freguesia, Jorge Maio, tentou por diversas vezes evitar que a obra passasse por esse caminho, e até fez um pedido de classificação como património cultural imóvel municipal, mas as obras prosseguiram.
Também segundo esta rádio a empresa Águas do Norte diz que a obra está a ser acompanhada por um arqueólogo, ideia contrariada por este presidente de junta que diz que “não acredita que esteja a ser feito um bom trabalho”.
A Universidade FM ouviu Luís Pereira, vila-realense e arqueólogo de profissão e segundo este, “sendo que entrou um pedido de classificação não podem decorrer obras”.
Inércia Camarária na Destruição de Património Cultural do Concelho
O Bloco de Esquerda de Vila Real tem vindo a denunciar há vários meses a inércia da Câmara relativamente ao património da cidade.
No início do ano, foi travada a última luta contra a destruição do edifício da PanReal, uma das últimas obras assinadas, como arquiteto, por Nadir Afonso, para a construção de um supermercado da cadeia LIDL. Este edifício tinha sido alvo de várias petições ao longo dos anos para que o mesmo fosse considerado património de interesse municipal e nacional.
No fim de junho contestaram a alienação da calçada portuguesa que revestiu a Avenida Carvalho Araújo durante 70 anos, num processo de requalificação que também foi polémico pelo abate de árvores.
No final de junho e início de julho este órgão distrital do BE foi uma das vozes que se opuseram à ideia verbalizada pelo presidente da Câmara Municipal de Vila Real em remover o município da Zona Especial de Proteção (ZEP) do Alto Douro Vinhateiro por dificuldades relacionadas com os pareceres a que o município está obrigado no que respeita à construção nesses locais.