Beatriz Realinho, Rafaela Aleixo, Ana Rita Reis, Diogo Coelho e Rodrigo Sousa, ativistas da Greve Climática Estudantil da Guarda, participaram no painel “Ambiente do Avesso?”, dando resposta à questão: como fazer ativismo pelo clima no interior? As respostas foram dadas através da experiência e iniciativas em que têm participado.
A Beatriz começou por explicar que A Greve Climática Estudantil consiste num grupo de jovens que dá “voz pela justiça climática”. Uma luta que consideram “bastante importante” e pela qual exigem “mudanças”, exigem que o “assunto seja trazido para a ordem do dia e que seja debatido por aqueles que nos representam”.
Explicou ainda que além das greves nos dias 24 de maio e 27 de setembro de 2019, o núcleo da Guarda não se fica apenas por aí, tendo participado noutras iniciativas e parcerias “mais a nível local e a nível do interior para realçar os problemas que existem na nossa zona”.
A Rafaela defendeu que participar em lutas locais é uma forma de mostrar “às pessoas aquilo que nós queremos e para também se entender o porquê” da causa.
No interior “um dos grandes problemas é mesmo o despovoamento e a desvalorização do território”, diz. Neste seguimento, lembra que temos vindo a assistir à “exploração de recursos como forma de valorização que não é aceitável”, nomeadamente “em relação ao tema do lítio”.
Utilizando a questão do lítio como exemplo, Rafaela conta como se têm apercebido que “as pessoas não sabem, ou se sabem não querem saber”, o que pode ser justificado por muita desta informação circular através das redes sociais não chegando a outras pessoas.
É nesse sentido que a Greve Estudantil da Guarda tem participado noutro tipo de iniciativas, como por exemplo “na manifestação artística contra o lítio juntamente com várias associações”.
Deixou ainda uma crítica à forma como o turismo está a ser promovido no interior, muito à conta da realidade pandémica, estando a atrair um “turismo de massas” para o interior e “não é isso que também se pretende”, pois não é um turismo sustentável.
Ainda atendendo às especificidades locais, participaram em plantações de árvores, pois “o espaço em que nós estamos é fortemente abatido por incêndios a toda hora”.
Também a arte, diz Rafaela, “tem também um papel muito importante na luta contra a inação política contra as alterações climáticas”.
Um exemplo foi dado pela Rita que fez parte do júri da juventude do Festival Internacional de Cinema Ambiental CineEco em Seia. Explica a importância deste festival como “um veículo de informação porque trata diversos temas e aborda questões climáticas de extrema importância para os quais nem sempre estamos sensibilizados” e de como “dá a conhecer ao público geral cinema que tem acima de tudo um caráter consciencializador”.
“O festival tem feito um trabalho excelente porque chega a todos os públicos, incluindo crianças e jovens, o que tem um impacto muito positivo e é por isso que eventos como este são tão importantes porque de facto divulgam temas que nos dizem tanto mas aos quais nem sempre é dado a devida importância”, explica.
Diogo, que participou no movimento online Digital Strikes explica como estas “abordaram tópicos de extrema importância nos dias de hoje, como o abate de árvores, ou a exploração de combustíveis fósseis, ou a sobrevalorização do lucro em detrimento do valor humano”
Com o objetivo de consciencializar, “as Digital Strikes agem através das redes sociais, porque neste momento são das maiores fontes de informação que temos”.
O painel contou ainda com a intervenção do Rodrigo, que testemunhou a luta pelo clima numa vila do interior, Fornos de Algodres. Na altura da convocação da Primeira Greve Nacional, a Associação de Estudantes de Fornos de Algodres decidiu avançar com uma manifestação em prol da justiça climática, a nível nacional mas também local, num universo de 300 alunos que integram o agrupamento, mais de 100 apareceram, ultrapassando os números esperados pela organização. A partir daí abriu-se então uma oportunidade única para sensibilizar os alunos acerca dos problemas climáticos, mas também a população local que pareceu bastante interessada na greve”. Acrescenta ainda que “apesar de não se ter realizado mais nenhuma greve, a luta não pára!”.
Ambiente do Avesso? O panorama ambiental do interior
Associações, Movimentos, Coletivos e Ativistas do Interior partilham as suas perspectivas e lutas pelo ambiente.