A pandemia não pode servir de desculpa para esquecer a centralidade que a questão ambiental deve ter. Em 2020 continuaram a existir ataques e ameaças ambientais, mas também não cessaram as lutas das populações pela defesa do ambiente, das suas regiões e de uma melhor qualidade de vida. Como tal, o Interior do Avesso continuou a ser uma plataforma de denúncia e divulgação da luta pela justiça ambiental. Temas comuns que destacamos nesta revisão do ano são as descargas poluentes, as centrais de biomassa e a extração mineira.
Sobre a causa ambiental, o Interior do Avesso promoveu em julho um encontro online denominado “Ambiente do Avesso? O panorama ambiental do interior”. A discussão contou com a representação e participação de vários movimentos, associações e ativistas ambientais, cujas intervenções ainda podem ser consultadas aqui
Descargas poluentes: o flagelo das águas no interior
Sem grande novidade, infelizmente, os episódios de poluição nas ribeiras, rios, barragens e praias do Interior, continuaram frequentes ao longo de 2020. Fica um pequeno registo do “mapa” e “calendário” de alguns dos episódios que divulgámos.
- Em maio o Rio Tejo voltou a aparecer poluído entre Vila Velha de Ródão e Abrantes, depois de em Janeiro o Bloco de Esquerda já ter alertado para uma situação semelhante.
- Em fevereiro e outubro foi detetada poluição no rio Noéme a partir da aldeia da Gata (Guarda)
- Em fevereiro e dezembro foram denunciados episódios de poluição na Praia Fluvial do Mercudo – Rio Dão (Carregal do Sal)
- Em abril a Ribeira da Sertã apareceu poluída
- Em maio foi detectada poluição e peixes mortos no Rio Corgo em Vila Real
- Em junho foi denunciado um “esgoto a céu aberto” em São João de Areias (Santa Comba Dão)
- Ainda em junho, uma ETA foi a fonte de descargas poluentes na Barragem das Cainhas (Vouzela/ Oliveira de Frandes)
- Continuou a luta da população contra a poluição da Ribeira de Dardavaz (Tondela)
Central de Biomassa do Fundão: Ruídos, Cinzas e Poeiras
Em julho, o Interior do Avesso partilhou o vídeo do retrato do desespero de quem, no Fundão, vive paredes meias com os ruídos, cinzas e poeiras da Central de Biomassa. Esta não era uma história nova, também em fevereiro estivemos no local a falar com estas pessoas, que vivem todas as consequências de ter uma Central de Biomassa como vizinha.
Desde então nada mudou, apesar das denúncias da população, de associações, de o assunto ter chegado, várias vezes e de diversas formas, à Assembleia Municipal do Fundão e à Assembleia da República. Mais recentemente, em Novembro, a candidata à Presidência da República Marisa Matias esteve no local e as queixas da população continuavam as mesmas.
As centrais de biomassa são um problema para as populações próximas, mas também para a floresta, pois têm-se alimentado de madeira resultante de monocultura. Associações ambientais e o Bloco de Esquerda defendem que são necessárias normas que impeçam a proximidade das povoações, bem como que o que é queimado são, de facto, resíduos florestais.
Exploração mineira: a ameaça para as populações do interior
Em agosto partilhámos a preocupação da população de Covas do Barroso, em Boticas, com a mina de lítio prevista para a região. Os emigrantes temiam não poder regressar à sua terra com o avançar do projeto de exploração. Este é um dos exemplos dos receios das populações em torno da ameaça da exploração mineira em Portugal.
Vítor Afonso, membro da direção da Associação Pessoas e Natureza do Barroso, e Catarina Alves Scarrott, da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, participaram no painel “Ambiente do Avesso?”, enquadrando o caso e ponto de situação do projeto de exploração da mina de Lítio do Barroso, bem como quais os obstáculos para a região. Também em discussão esteve a Mina do Romano, na região de Montalegre, com a participação de Armando Pinto, da Associação Montalegre com Vida.
No mês de agosto, era noticiada a pretensão para a exploração mineira a céu aberto de estanho e volfrâmio em Calabor, a apenas dois quilómetros da fronteira portuguesa em Bragança, no Parque de Montesinho. Um mês depois, continuou a luta contra a exploração de lítio na Serra de Argemela, manifestantes de todo o país e além fronteiras, juntaram-se na localidade de Barco, na Covilhã.
Apesar da contestação às explorações mineiras, em novembro, no âmbito do debate da especialidade do Orçamento do Estado para 2021, o Ministro do Ambiente considerou que lei “para impedir a mineração em áreas protegidas” não é uma lei, é um panfleto.