Catarina Alves Scarrott da Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, participou no painel “Ambiente do Avesso?”, enquadrando o caso e ponto de situação do projeto da mina de lítio do Barroso.
“Sabemos dos esforços do Governo português para angariar investimento estrangeiro para explorar lítio em Portugal”, o que criou expectativas “nas mentes dos investidores estrangeiros” que ficam bem patentes “com a corrida às licenças da prospeção de lítio” na mina do Barroso, contextualiza Catarina Alves Scarrott.
Explica como “em Covas do Barroso uma licença que existia há 15 anos para uma mina de quartzo e feldspato, que até nunca chegou a ser explorada, serviu como ponto de partida” para em 2017 a Savannah Lithium reclamar os direitos da licença que tinha comprado e que entretanto se converteu numa “área consideravelmente mais alargada com a pretensão de vir a explorar lítio”.
Com o decorrer das prospeções, “a forma agressiva e a extensão que abrangeram levou-nos a questionar que licenças realmente existiam e para que áreas”. “O resultado deu no que ainda lá se pode ver”, “depois de 300 furos com um total de 30 mil metros numa extensão que equivale a mais de 500 campos de futebol”, conta Catarina.
Apenas depois de quase um ano de prospeções, se percebeu que a licença original foi alterada em 2011, adicionando 422 hectares aos 120 hectares iniciais. Em junho de 2019 houve outro pedido de alargamento da área em mais 51 hectares. A par destes pedidos, a Savannah Lithium tem procurado outras formas de alargar ainda mais a área através de um contrato de compra e venda de uma licença de outra empresa. Tendo esta área em conta, “dos 6% da nossa área [freguesia de Covas do Barroso] em 2006 estamos agora com 30%”.
“Depreende-se de tudo isto que em Portugal uma licença de prospeção é uma carta branca para qualquer empresa fazer o que entender sem que haja nenhuma intervenção do estado ou do mecanismo que a concede”. Até ao momento, tudo tem ocorrido “sem que a população ou a autarquia sejam consultados ou sequer informados”. Além do mais, não são feitas fiscalizações para garantir que os termos da licença e os termos do estudo de impacto ambiental estão a ser respeitados.
Entretanto, e com o grande receio de transformação da prospeção em exploração, “vão decapar, desmatar, e desflorestar hectares das nossas terras. Gastar Gigawatts de eletricidade que lá produzimos e milhares de metros cúbicos da água que usamos para regas as nossas terras. Vão desviar dois cursos de água, abrir minas a céu aberto, algumas das quais a escassos metros das nossas casas, e deixar lá crateras maiores do que a Assembleia da República”.
Apesar dos argumentos que são dados de que “sem lítio não há descarbonização” ou “não haverá digitalização”, Catarina sublinha como a bateria de um carro elétrico precisa de vários quilos de lítio, considerando que “é esse o verdadeiro interesse das companhia de mineração, como a Savannah, que espera vir a ser financiada por marcas de carros como a Volkswagen.”
O processo será algo como: “várias toneladas de rochas, desfeitas em pó, que depois serão processadas na China para regressar a uma fábrica de baterias em outro país europeu para integrar um carro de uma marca de automóveis qualquer, que será vendido sem qualquer consideração pelo facto que o lítio vem de Portugal. E assim será por meia dúzia de anos, enquanto a procura for maior que a oferta, porque quando o mercado estabilizar as minas deixarão de ser rentáveis em Portugal, e nem vale a pena pensar no legado que vão deixar ao país e em particular às gentes do Barroso”.
“Por tudo isto”, conclui Catarina Alves Scarrott, “dizemos não à exploração de lítio na nossa terra e no nosso país!”
Ambiente do Avesso? O panorama ambiental do interior
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