Ensino à distância: “Traduz muita desigualdade, sobretudo nos mais novos”

Em entrevista ao Centro Notícias, Hermínio Marques começou por dizer que “este início do ano letivo começou aos solavancos. Faz-me lembrar aqueles carros velhos que custa a pegar”. A conversa foi sobre o ano escolar e o regresso das aulas à distância. 

Hermínio Marques é professor de Matemática no Ensino Secundário, natural e residente em Carregal do Sal. Foi diretor do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal durante mais de 10 anos e esteve à conversa com José Miguel Silva, diretor e jornalista do Centro Notícias, sobre o ano letivo e o regresso do ensino à distância. 

“Mesmo que o ensino tivesse começado coxo, o ensino presencial não era dito «normal» porque os alunos estão todos de máscara, portanto não se via as feições, não podiam ir ao quadro porque era perigoso, não podiam trabalhar em grupo. Nada substitui o ensino presencial em termos de aprendizagem”, disse.

Para o carregalense, foi complicado os alunos cumprirem as normas sanitárias “por causa da sua idade, o que é normal”. 

“Eu não considero que isto seja um ensino à distância porque o que nós estamos a fazer é outra coisa. O que estamos a fazer é aulas presenciais remotamente, nós tentamos fazer nos nossos computadores o que teríamos que fazer na sala de aula, o que contraria as metodologias que há para o ensino à distância”, referiu o professor. 

E acrescentou que “neste ensino, embora reconheçamos que estamos numa pandemia e é necessário, constatamos que traduz muita desigualdade, sobretudo nos mais novos”. 

Em Carregal do Sal, enquanto foi diretor do Agrupamento de Escolas deu nota que “nos mais de 1000 e tal alunos, um quarto tinha problemas sociais, um sexto tinha problemas graves. Agora nem imagino como é que estes alunos vão estar”. 

Relativamente às dificuldades de acompanhamento do ensino à distância por falta de equipamentos informáticos, Hermínio Marques disse que “numa breve pesquisa, vi que as Câmaras de Nelas e Santa Comba Dão tinham dado esse apoio. Estou à espera para ver o que a minha Câmara, Carregal do Sal, vai fazer. Depois encontrei quase uma centena de notícias com informação de Câmaras que davam apoios, as autarquias estão a fazer alguma coisa e bem”. 

“A maioria das Câmara não age, reage, e deviam ter agido antes. Aliás, o mesmo acontece com o Governo, aumentaram os números de casos e fecharam as escolas”, sublinhou. 

Para Hermínio, “investir na educação é investir no futuro. Não há dúvida que é a educação que faz avançar e faz criar sinergias que nos fazem ter uma vida melhor”.

“Mesmo com os riscos todos que já falei, não deveria haver aulas presenciais até à Páscoa porque para atingirmos os números de casos diários do Natal ainda vai demorar algum tempo e se desconfinarmos com números superiores aos do Natal vamos ter problemas outra vez”, terminou.

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