Uranium Film Festival é um festival internacional que mostra cinema dedicado à exploração de urânio e aos problemas decorrentes da exposição à radioatividade. Acontecerá este ano em Nelas a partir de sexta-feira para lembrar a mina da Urgeiriça. A organização salienta as suas preocupações ambientais.
“Não mais mortes por exposição à radioatividade. Não às alterações climáticas.” Com este lema, o Uranium Film Festival(link is external) vai trazer 12 filmes e vários debates sobre urânio e clima a Nelas. A partir da próxima sexta-feira, a Casa do Pessoal das Minas da Urgeiriça vai ser um dos locais privilegiados para ver, aprender e questionar a temática do uso urânio e da radioatividade.
Simbolicamente, este festival abre junto ao que foi o poço central das minas da Urgeiriça onde vai ser apresentado um trabalho sobre o futuro Museu Mineiro da Urgeiriça. A mina de urânio da Urgeiriça começou a laborar em 1913 e só fechou em 2000 deixando o ambiente contaminado e os trabalhadores com a saúde deteriorada. Depois, para além de Nelas, o festival vai passar também pelo Instituto Politécnico de Viseu no sábado e pelo Auditório da Biblioteca Municipal de Mangualde no domingo.
Aos filmes juntam-se seis mesas redondas sobre saúde, ambiente e associativismo.
O responsável português pelo festival é António Minhoto, presidente da Associação dos Ex-Trabalhadores de Minas de Urânio(link is external). À Lusa declarou que o evento “dá grande relevância às questões da saúde e exames que defendemos que sejam feitos”. Para disso, o festival pretende contribuir para o conhecimento sobre recuperação das minas abandonadas.
Na edição do ano passado, António Minhoto, ex-trabalhador do complexo mineiro, tinha sido homenageado pelo seu trabalho na associação ambientalista AZU, Ambiente em Zonas Uraníferas, e na ATMU. Minhoto lembrou na ocasião os problemas de ventilação da mina, como o urânio era transportado em caminhões abertos expostos ao vento e homenageou os restantes colegas de trabalho.
O filme Cem anos da Urgeiriça também foi distinguido no mesmo festival. Realizado por James Ramsay Cameron em 2016, é um documentário que conta a história destas minas e, por exemplo, como produziram material para as bombas atómicas britânicas ou material para Saddam Hussein.
Do programa(link is external) deste ano, consta ainda a exibição da reportagem feita por Mafalda Gameiro para a RTP sobre esta mesma mina e intitulada O Mal da Mina. Aborda as doenças causadas pela laboração na mina, nomeadamente as mortes por cancro de trabalhadores. Destaque ainda para Yellow Cake. A sujeira por detrás do urânio, um documentário de Joachim Tschirner sobre a mina de Wismut, que foi a terceira maior mina de urânio do mundo, e o processo de limpeza de que foi alvo de forma a minimizar impactos ambientais.
Fundado em 2010 no Rio de Janeiro por Norbert Suchanek e Marcia Gomes de Oliveira, o Festival Internacional de cinema sobre Urânio já aconteceu também na Alemanha, na Índia e nos EUA. Desde o seu início, não pretendeu apenas ser uma mostra de cinema temática mas sobretudo um evento ambientalista e educativo que levanta questões sobre a mineração do urânio, a energia nuclear e a radioatividade e as questões relacionadas com as armas nucleares.
A iniciativa nasceu do Arquivo Amarelo(link is external) um projeto cultural e educativo “contra o esquecimento global” que elabora projetos culturais e de educação ambiental. No Brasil, esta associação disponibiliza também um “Cinemateca Atómica” que arquiva e disponibiliza filmes sobre esta temática.
Artigo publicado em Esquerda.net