O que te levou a encabeçar esta candidatura?
Foi com um misto de surpresa e honra que recebi o convite da Direção Nacional e representantes regionais do Partido, sendo eu independente. Verdade é que sempre me bati na minha vida por valores que comungo com os do Bloco de Esquerda, nomeadamente na defesa das populações face aos abusos dos grandes grupos económicos, na defesa da Escola Pública e do Serviço Nacional de Saúde, na dignificação do trabalho, além das causas ligadas aos direitos humanos, à igualdade e à solidariedade com os mais vulneráveis. Nestas eleições, senti que era uma obrigação ainda maior dar cara à luta, por ser o ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril e por nunca termos tido tantas ameaças às suas conquistas.
Com base na tua experiência enquanto profissional e/ou ativista, o que nos podes dizer sobre saúde mental no interior?
A Saúde Mental, como todas as outras áreas da saúde, sofre no interior essencialmente da falta de profissionais especializados. É verdade que o caminho no nosso distrito tem sido feito de forma positiva nos últimos anos, pelo esforço das estruturas e das instituições em contratar e fixar psiquiatras. Mas há uma grave carência de pessoal especializado, nomeadamente no setor público, de psicólogos, terapeutas e enfermeiros dedicados à área. Temos uma população muito envelhecida e dispersa pela região, com dificuldades no acesso a estes cuidados. A resposta passa também por levar a saúde mental ao seu encontro, na constituição de equipas comunitárias e de apoio domiciliário, numa lógica complementar entre os serviços nos hospitais e centros de saúde, mas também com as IPSS, autarquias e demais associações na comunidade. Problemas como a depressão associada ao isolamento a vários níveis, as demências ou questões relacionadas com a perda da memória, as dependências sobretudo do álcool, são áreas de especial preocupação e que exigem uma atuação mais próxima e intensa, mas também políticas especificamente dirigidas para estes desafios.
Qual a(s) maior(es) preocupação(ões) no teu distrito (Bragança)?
São várias as preocupações no distrito. Começaria pelo despovoamento, o envelhecimento da população e a saída das gerações mais novas, com as consequências sociais que acarreta, mas também perda de conhecimento e saberes milenares que tornam esta região tão especial. É certamente o maior desafio de todos, até porque não é dissociada da perda de serviços públicos e da presença do Estado, que ainda acelera mais a perda de população. Temos também o problema da mobilidade num território com população tão dispersa e que dificulta o acesso das pessoas aos serviços e vice versa. Há, igualmente, o problema do conforto térmico. As populações do Nordeste transmontano enfrentam invernos muito frios e verões muito quentes. Essas temperaturas extremas têm impacto na saúde e na qualidade de vida das pessoas que, para climatizarem as suas casas, pagam muito pela energia. Ora isto é incompreensível quando nesta região se produz uma parte significativa da eletricidade do país.
Que filme e que livro gostarias de partilhar?
Um filme clássico que vi muito recentemente, Casablanca, e o livro “Sinais de Fogo” de Jorge de Sena. Duas obras que falam muito da descoberta e redescoberta do amor em tempos de grande agitação, mudança e ameaça de conflito. Não é possível defender a democracia contra o fascismo e o autoritarismo sem valores como a tolerância, a solidariedade e, sobretudo, o amor.