Joana Viveiro do Movimento Estrela Viva participou no painel “Ambiente do Avesso?”, dando resposta à questão: como aliar a preservação da natureza e a promoção da biodiversidade com uma economia que fixe pessoas na Serra da Estrela? As respostas incluem olhar de outro modo para a agricultura, para o turismo e para a exploração de depósitos minerais.
Joana Viveiro faz um retrato da região nas últimas décadas, onde se tem “vindo a assistir passivamente a uma perda da coesão territorial da nossa região associado a um despovoamento massivo […] com êxodo para o litoral e consequente envelhecimento e empobrecimento” do território. Considera que é por isso “urgente que se encontrem soluções que contrariem esta trajetória insustentável”.
Soluções que deverão ir mais além das “medidas tímidas” que têm surgido por parte do poder central, envolvendo “efetivamente e objetivamente” os atores locais, desde as autarquias às associações, dando-lhe ferramentas e financiamento para que “possam nascer projetos comunitários colaborativos e sustentáveis que valorizem os próprios recursos endógenos”.
Uma das áreas que Joana Viveiro refere como fundamental é a agricultura, considerando que “a aposta numa agricultura de proximidade e nos circuitos curtos agroalimentares é uma forma de trazer benefícios sociais, ambientais e económicos à região”, mas também “benefícios sociais e culturais, porque este tipo de modelo contribui para o reforço da coesão e da equidade social através do incremento da economia local”.
Esta visão da agricultura tem ainda “benefícios ambientais, uma vez que este modelo de circuitos curtos está assente numa agricultura menos industrializada, menos intensiva, menos extrativista”, contribuindo “para a preservação dos recursos, hídricos e dos solos, e redução da pegada de carbono porque não há necessidade de tanto acondicionamento, armazenamento, refrigeração e transporte por longas distâncias”.
Um outro tema abordado é o turismo sustentável, “que deverá zelar pela otimização de recursos naturais, respeitando a autenticidade sociocultural de cada comunidade e assegurando a viabilidade das atividades económicas a longo prazo”. Mais concretamente o ecoturismo “poderia ser uma das abordagens mais indicadas para o turismo” da Serra da Estrela, recentemente confirmada como Geopark Mundial da UNESCO.
O ecoturismo “é um turismo de baixo impacto, de pequena escala, permite então o equilíbrio entre quem visita e quem recebe, entre a comunidade, a natureza, diminuindo os impactos negativos do turismo no próprio ambiente, nas comunidades”.
A oradora manifestou ainda a posição do Movimento Estrela Viva sobre “a prospecção e pesquisa de depósitos minerais e eventual exploração futura” na Serra da Estrela, “que é no fundo o modelo extractivista que entra em conflito direto com qualquer estratégia local de desenvolvimento baseado em práticas sustentáveis. Também entra entra em conflito direto com o próprio turismo de natureza, e com esta modalidade do ecoturismo, e que pode mesmo colocar em causa investimentos públicos e privados já realizados ou previstos para a região”.
“Os modelos de ordenamento e gestão das áreas protegidas em Portugal, em particular na Serra da Estrela, poderiam e deveriam ser mais capazes de compatibilizar tudo isto: atividade económica, turismo e conservação da natureza”. Apesar dos diversos obstáculos e das muitas mudanças necessárias, Joana termina: “somos resilientes e vamos conseguir dar a volta!”
Ambiente do Avesso? O panorama ambiental do interior
Associações, Movimentos, Coletivos e Ativistas do Interior partilham as suas perspectivas e lutas pelo ambiente.