Mobilidade pública e coletiva, precisa-se!

É urgente repensar todo o modelo de mobilidade coletiva no distrito e cabe às autarquias darem o seu contributo para esta transformação que é inevitável. É preciso adequar a rede do serviço de autocarros, os seus horários e a sua frequência, às necessidades dos trabalhadores e população.

Com a inflação já situada nos 8 por cento, as condições de vida dos trabalhadores portugueses, particularmente dos mais pobres, estão novamente incomportáveis. Os meses, as semanas, os dias, custam mais a passar, em todos os aspetos. Depois dos sucessivos confinamentos, temos agora a guerra na Ucrânia e uma crise energética que todos os dias nos assalta a carteira, principalmente quando vamos abastecer os nossos veículos. As trabalhadoras e trabalhadores parecem não conseguir livrar-se do garrote da austeridade enquanto os lucros de empresas como a Galp Energia ascendem de 26 milhões de euros para 155 milhões de euros neste primeiro semestre e em comparação com o período homólogo.

Já nesta segunda-feira, seis de junho, os combustíveis voltaram a subir 14 cêntimos no gasóleo e 12 cêntimos na gasolina, enquanto a descida dos impostos nos produtos petrolíferos não tem impacto significativo. Com uma subida dos combustíveis na ordem dos 27,2 por cento em maio em relação ao mesmo mês do ano passado, quais são as alternativas viáveis para os trabalhadores e para a população em geral em termos de mobilidade? Como a população do distrito de Viseu bem sabe a alternativa é nula ou quase nula, e no resto do território português a realidade é semelhante. Os transportes públicos foram sendo progressivamente desmantelados ao longo de décadas para promoção do uso do transporte privado individual – uma questão de mercado.

O problema é que esta aposta no desmantelamento dos serviços públicos de transporte não serve, nem a economia – mais para mais em tempos de inflação -, pelo menos uma economia que pretenda servir a sociedade e não se servir dela, nem serve a tal transição energética que é tantas vezes propalada pelos nossos governantes, nacionais e europeus, mas que não passa de palavreado para entreter os mais crédulos e distraídos.

No caso de Mangualde, para dar um exemplo, simplesmente não há transportes públicos rodoviários (autocarros) compatíveis com os horários do maior empregador privado, a Stellantis (ex-PSA), com turnos às 7 da manhã, às 15h e às 23h. A realidade é transversal a praticamente todo o tecido produtivo do concelho.

É urgente repensar todo o modelo de mobilidade coletiva no distrito e cabe às autarquias darem o seu contributo para esta transformação que é inevitável. É preciso adequar a rede do serviço de autocarros, os seus horários e a sua frequência, às necessidades dos trabalhadores e população. Não se compreende o desfasamento entre a escassez na oferta pública destes transportes e as necessidades reais de quem todos os dias, ou quase, se tem de deslocar para o seu trabalho para fazer mover a economia. E não se compreende ainda mais nestes tempos cinzentos em que o combustível está ao preço de um qualquer produto de luxo.

É preciso que as autarquias do distrito e a CIM-VDL (Comunidade Intermunicipal de Viseu Dão Lafões), a qual tem responsabilidade neste âmbito e gere o PART (Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes Públicos), estejam à altura dos seus desafios, que são os desafios de uma sociedade apostada em enfrentar o futuro da mobilidade e que passará, inevitavelmente, pela mobilidade pública e coletiva. A bem da saúde do planeta, do bem-estar dos cidadãos e cidadãs e da carteira de quem trabalha.

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