A Polícia Judiciária de Vila Real realizou esta quarta-feira dezenas de buscas no âmbito da Operação Gota d’Água, que investiga a atividade fraudulenta de um laboratório responsável pela colheita e análise de águas destinadas a consumo humano, águas residuais, águas balneares, piscinas, captações, ribeiras, furos, poços e outras. O Jornal de Notícias revela que se trata do Laboratório Regional de Trás-os-Montes.
Segundo o comunicado da PJ, o laboratório visado “procedia à falsificação de todos os procedimentos de amostragem e análises relativas ao controlo de águas de consumo humano contratadas pelas entidades gestoras (Câmaras Municipais, Entidades Intermunicipais ou outras entidades em que foi concessionado aquele serviço público), em conluio com alguns dos funcionários, dirigentes e eleitos locais destas entidades”.
Além disso, a fraude estendia-se à análise das águas residuais que serve para avaliar o cumprimento das licenças de descarga das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de diversos concelhos. O objetivo da falsificação, prossegue a PJ, era reduzir os custos do laboratório, assim colocando em causa a confiança e fiabilidade dos resultados das análises e, consequentemente, a qualidade da água ingerida diariamente pelas comunidades.
A operação policial deteve 20 pessoas e realizou 60 buscas nos distritos de Aveiro, Braga, Bragança, Coimbra, Guarda, Lisboa, Porto, Vila Real e Viseu. Seis autarquias – Miranda do Douro, Mogadouro, Vila Flor, Mirandela, Alfândega da Fé e de Macedo de Cavaleiros – confirmaram à agência Lusa terem sido alvo destas buscas. Os detidos, com idades compreendidas entre os 25 e 61 anos de idade, são funcionários e dirigentes do laboratório, funcionários, dirigentes e eleitos locais das Entidades Gestores e ou empresas (câmaras municipais e empresas concessionárias) e serão presentes a interrogatório judicial.
Dono do laboratório é o grupo privado que controla várias empresas de abastecimento de água
Além dos municípios visados, o laboratório em causa viu serem adjudicadas nos últimos anos diversas análises às águas por parte de muitas outras autarquias, como Resende, Alijó, Bragança, Lamego, Boticas, Macedo de Cavaleiros, Marco de Canaveses, São João da Pesqueira, Moimenta da Beira, Guarda, Sabugal, entre outras, e por empresas como a Águas do Norte, Águas do Vale do Tejo, Águas Públicas da Serra da Estrela ou a AdRA – Águas da Região de Aveiro.
O laboratório é detido em 50% pela multinacional AGS, antiga empresa do grupo Somague e adquirida em 2014 por capitais japoneses. A página da empresa anuncia atividade aberta no Brasil, Chile, Angola, Espanha, Roménia, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné, Filipinas e Timor Leste. Em Portugal está ativa na privatização dos sistemas municipais de água, com participação entre 40% e 100% do capital de onze empresas de norte a sul do país.
A empresa que tem João Faria Feliciano como CEO – também gerente do laboratório visado – foi notícia na última década pelos conflitos com as populações de Barcelos, Paços dhttps://www.esquerda.net/artigo/policia-investiga-falsificacao-de-analises-de-agua-para-consumo-humano/88578e Ferreira ou Marco de Canaveses, que viram as faturas da água disparar após os seus municípios terem concessionado o abastecimento de água a esta empresa.
Artigo Esquerda.net