Sou cuidadora informal do meu irmão e da minha mãe. O meu irmão sofre de paralisia cerebral e tem 80% de incapacidade.
Ser cuidador é essencialmente deixarmos a nossa vida para trás, passando a viver a vida de quem cuidamos.
Ser cuidadora é preciso saber gerir o tempo, organizar as ideias e ser muito dinâmica. Ter a capacidade de manter sempre a cabeça ocupada com ideias positivas, brincar, rir até dançar. Mesmo quando apetece chorar.
Será uma missão; que alguns de nós temos cá na terra ou é o destino?… Embora hoje seja uma profissão. Mas calculo que seja um emprego que pouca gente queira. Abdicamos de tudo na nossa vida. Sabemos que são nossos, é a nossa família. Só quem tem um coração grande é que aguenta tudo isto. Olha-se para a vida com outros olhos, no dia a dia é cansativo mas temos que ter muita paciência.
Há 16 anos que sou cuidadora e nessa altura não existia cuidados continuados, tive que ser eu e só eu, fui buscar forças e inteligência, não sei onde?… Não tive ajuda da assistência social.
Tive que adaptar a casa perante as novas necessidades e vender a minha herança.
A minha mãe ficou com demência devido a um AVC. Só no fim de 6 meses é que voltou ao hospital. O médico deu-me os parabéns da dedicação e do trabalho que fiz, a minha mãe tinha recuperado tanto em tão pouco tempo.
Hoje penso assim: sou uma grande filha, irmã e amiga. Isso é reconhecido por todos que me conhecem e sabem a história da minha vida. E quantas famílias são destruídas com as invejas de quem está a tomar conta é mais beneficiado. O meu sonho era ser professora de ginástica, e saber falar várias línguas. Mas o meu destino foi ser cuidadora informal da minha família.
O estado ganha muito dinheiro connosco e não nos paga nada.
Quando deixarmos de ser cuidadores fazemos o quê?
Mas sou feliz, mesmo não sabendo o que o futuro me reserva.
Luísa Marcelino Bento, 52 anos, esteticista até 2008, cuidadora informal desde 2006, dos pais e irmão.