Decorridos cem anos do seu nascimento, a pedagogia de Paulo Freire continua a ser inspiradora para quem acredita que a educação pode ser emancipatória e libertadora. Dossier esquerda.net organizado por Mariana Carneiro.
A 19 de setembro de 2021, Paulo Freire completaria 100 anos. No Brasil, o governo de Jair Bolsonaro tenta apagar o seu legado, silenciá-lo. Mas Paulo Freire é semente. Aliás, sementes, que se deixam levar pelo vento um pouco por todo o mundo.
O Esquerda.net não poderia, de forma alguma, deixar de se associar à celebração do seu centenário. Mais do revisitar o seu legado, a sua obra deve inquietar-nos no sentido de percebermos de que forma nos pode abrir novos horizontes e dar pistas para responder, numa perspetiva emancipatória e libertadora, aos desafios com que nos confrontamos.
Neste dossier, Inês Barbosa e Fernando Ilídio Ferreira entram em diálogo com Paulo Freire sobre a investigação participativa e compromisso com a transformação do mundo e exploram o impacto da obra Pedagogia do Oprimido nos campos da educação, da política e da cultura.
Licínio C. Lima escreve sobre governação democrática da escola: organização, participação e autonomia e, em entrevista a Ruth Pavan, defende que “cada livro de Freire é uma espécie de relatório sobre o pensado e o vivido”.
Graça Marques Pinto evoca Paulo Freire lembrando como dedicou a sua vida à educação como processo emancipatório. E assinala que, “apesar de Paulo Freire ser considerado o patrono da educação brasileira, os opressores continuam a não perdoar-lhe o ‘atrevimento’ de combater a dominação e de preconizar uma cultura anti hegemónica e emancipatória”.
O texto de Rosa Soares Nunes traz-nos breves considerações sobre o texto e o contexto de Pedagogia do Oprimido e sublinha que “na visão freiriana, para que os oprimidos convertam as suas próprias atividades em força revolucionária, precisam de desenvolver uma consciência coletiva da sua própria condição ou formação como classe subalterna”.
Em Paulo Freire, educador do mundo, Urariano Mota acusa: “Paulo Freire sofre um segundo exílio post-mortem neste governo Bolsonaro. De Patrono da Educação Brasileira ele passou a ser perseguido de novo”.
De que forma o pensamento do educador pode ajudar-nos a pensar os limites do Occupy e outros “movimento das praças” da década passada é a questão fundamental deixada por Rodrigo Nunes em Paulo Freire no Occupy.
O pedagogo da esperança e da liberdade: é assim que Ademar Bogo evoca Freire. De acordo com o filósofo e poeta, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao nascer e se desenvolver, nada mais fez do que confirmar pela prática, o que Paulo Freire tinha descrito nas suas reflexões.
Neste dossier damos ainda a conhecer, em Paulo Freire e Amílcar Cabral: A descolonização das mentes, de Eustáquio Romão e Moacir Gadotti, as relações entre o pensamento e a ação de Paulo Freire com a luta e as reflexões de Amílcar Cabral, e a peregrinação concreta e reflexiva de Freire pelo continente africano, já que ele trabalhou ou manteve relações muito próximas com várias nações daquele continente: Cabo Verde, Guiné-Bissau, Nigéria, São Tomé e Príncipe, Tanzânia, Zâmbia.
Recuperamos também um texto de Augusto Boal sobre Amílcar Cabral – “Para que eu exista é preciso que Paulo Freire exista” – e damos a conhecer iniciativas agendadas para Portugal no âmbito da celebração do centenário de Paulo Freire.