O conceito “ipsis verbis” de interioridade é “isolamento das terras do interior”. Mas, e a conotação deste conceito terá de continuar a ser mau, ou na realidade será uma mais valia para quem vive “por cá?”
Um dos grandes debates do nosso país é a dicotomia entre o interior e o litoral, uma discussão que todos os anos se faz e que salienta as diferenças entre estes dois territórios que fazem parte do mesmo país. Nuno Campos, ativista ambiental que reside no concelho de São Pedro do Sul, reflete sobre esta dicotomia dando o pontapé de saída com a pergunta “O que é a Interioridade e o porquê ser um termo tão “épico” num país como o nosso de tão pouca amplitude no que diz respeito à superfície de referência em termos de latitude? Porquê o interior ser tão dramaticamente diferente do litoral em Portugal. E isso é bom ou é mau?!”
Nuno Campos começar por definir o que é a Interioridade, que pode “ser analisada de múltiplas formas, mediante aquilo que realmente queremos ter em consideração. No entanto poderemos pegar num indicador meramente biográfico, e correlacioná-lo com aspetos da nossa vida como Portugueses, sendo que não quero ser transversal em demasia para não desfocar a mensagem. Uma coisa é certa: Interioridade é uma qualidade do Interior.”
A emigração do Interior tem sido um dos grandes flagelos deste território e continuamos num ciclo de despovoamento intenso. As pessoas emigram à procura de um leque mais variado de oportunidades, nomeadamente “os jovens formados, tem sido a fuga para os grandes centros, principalmente cidades desenvolvidas como Lisboa e Porto. Assim acontece no meu concelho (São Pedro do Sul), mas também no meu distrito (Viseu), e um pouco por todo o interior de Portugal”, diz o ativista.
Apesar da falta de serviços públicos e da qualidade dos mesmos, falta de transporte, falta de acessibilidades e falta de tantas outras coisas, para Nuno Campo ainda “há quem resista. Mérito a esses que, na sua resiliência vão reinventando conceitos, aproveitando o outro lado, que é o que de bom o interior tem – Qualidade de vida, cultura etnográfica, biodiversidade, gastronomia, genuinidade, tradições.”
Uma das preocupações levantadas pelo ativista ambiental é a floresta. A nossa floresta está completamente ocupada pela fileira do eucalipto promovendo assim o abandono do território e asfixiando a fauna e a flora existente, mas Nuno Campo lança um desafio, “façam esse exercício: Venham à rua, olhem ao vosso redor, e reflitam sobre a quantidade gigante e massificada, diria desorganizada, com que o eucalipto ocupa uma mancha florestal que não deveria ocupar. Não sou taxativamente contra o eucalipto nem contra a indústria que lhe é associada. Sou contra o sem rei nem roque sem o controlo”.
E termina dando o exemplo do Município do Fundão, um dos municípios mais endividados do país que no ano passado tinha uma dívida de 60,6 milhões de euros para uma receita de 21,2 milhões, mas que segundo Nuno Campos “tem sido um dos grandes resilientes e pioneiros no combate ao abandono do interior com estratégias simples, mas eficazes”. Como por exemplo, “uma série de investimentos e investidores do ramo tecnológico, têm também uma verdadeira comunidade de famílias estrangeiras a trabalharem em rede num conceito de futuro: Permacultura e comércio de proximidade”.
(Escrito por DG)