O Projeto Giesta apresentou hoje os produtos finais na Associação Fragas Aveloso (Freguesia de Sul, São Pedro do Sul). O projeto de promoção da igualdade de género tem enfoque nas mulheres e raparigas de seis aldeias da região de Lafões (Adopisco, Aldeia, Aveloso/ Oliveira de Sul, Covelinhas, S. Martinho das Moitas e Rompecilha).
O objetivo estratégico do projeto é a intervenção “junto de mulheres e raparigas nas comunidades desenvolvendo competências de forma criativa que as valorizam, procurando outros percursos de vida livres de estereótipos, que as afastem da exclusão social e da invisibilidade, tendo como base novas atividades ligadas ao ambiente e ao turismo de aldeia, introduzindo outras perspetivas do seu papel na comunidade.”
Para alcançar este objetivo, foram desenvolvidas várias ações e produtos finais, apresentados hoje pela equipa, composta por Adriana Gomes (técnica do projeto), Cristina Bandeira (coordenadora do projeto) e Manuela Tavares (supervisora do projeto e presidente da direção da Associação Fragas).
O produtos finais incluem o Calendário “Mãos na Terra” do ano de 2021; o Livro de Banda Desenhada, “Semear a Igualdade”, inspirado na vida de Mulheres das aldeias de Lafões; o Livro de Retalhos de Histórias de vida de Mulheres destas aldeias e ainda, o Estudo sobre a vida de Mulheres rurais da região.
Além de várias mulheres, entre as quais algumas provenientes das localidades de incidência do estudo, estiveram presentes e intervieram Carolina Leão (avaliadora externa do projeto) e Manuel Albano (vice-presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género).
47% das mulheres inquiridas ainda têm sonhos por realizar
O estudo “Vivências de mulheres rurais na região de Lafões”, desenvolvido no âmbito do Projeto Giesta, inquiriu por questionário 113 mulheres de 16 aldeias nas freguesias de Sul, S. Martinho das Moitas, Manhouce, Vila Maior e Ventosa.
No universo de mulheres que responderam ao questionário, 60% sempre viveram no mesmo concelho de nascimento, denotando uma mobilidade geográfica limitada na região. Uma maioria considerável (75,9%) destas mulheres trabalha numa agricultura de subsistência, atividade que é uma base importante mesmo para quem trabalha noutros setores.
Um valor superior ao esperado refere-se ao número de mulheres a descontar para a segurança social, apenas 10% nunca o fez. Contudo, a maior parte das mulheres que fizeram descontos tem um número de anos relativamente baixo, o que conduz a reformas precárias
Mais de metade das 113 inquiridas (52%) ou não sabem ler, ou têm as antigas 3.ª classe ou 4.ª classe. Apenas 9% têm o 12.º ano, valor em que se incluem as que o concluíram através do programa Novas Oportunidades.
Relativamente aos filhos e filhas destas mulheres (81% foram mães), os números são melhores, mas mesmo assim 31% deixaram o ensino para ir trabalhar; 44,7% migraram (para fora do país ou para Lisboa) e destes 82% não regressaram.
Uma grande maioria (95%) das mulheres já viu o mar, mas cerca de metade (47%) ainda tem sonhos por realizar, o que na maior parte (79%) dos casos é viajar. “Neste ‘viajar’ inclui-se ir visitar filhos/as que estão no estrangeiro, mas não só. Sente-se um interesse muito genuíno em sair dos muros das aldeias e conhecer outros territórios”.
Um outro número que dá que pensar são os apenas 17% que assumiram já ter contactado com violência doméstica, entre as quais poucas quiseram relatar os factos. Deste modo, o estudo conclui que possivelmente “a naturalização das situações de violência, em especial nas mulheres mais idosas, na base da submissão das mulheres, leva a que não se queiram expor.”