Nas redações do Porto e de Lisboa do Jornal de Notícias, a greve foi a 100%. A paralisação de 48 horas dos trabalhadores deste diário vem na sequência de um comunicado da administração da Global Media Group, sua dona e também do Diário de Notícias, de O Jogo, da TSF e do Dinheiro, em que se comunicava um despedimento coletivo que poderá atingir 150 trabalhadores do grupo, sendo 40 do JN, 30 da TSF e um número não especificado do desportivo O Jogo. Mas se essa é a principal razão, outras se somam como os atrasos nos pagamentos dos salários, os problemas de comunicação da administração e a mudança de instalação com a saída da sua sede histórica.
Ao Público(link is external), Rita Salcedas, delegada sindical do Sindicato dos Jornalistas, critica o “despedimento colectivo mais maciço da história do JN, em proporção com o número de trabalhadores”. Se neste momento há perto de 90 trabalhadores neste jornal, no final do processo a ideia da administração é que fiquem perto de 50. A jornalista vinca os efeitos que isso terá: “não é possível produzir um jornal diário como fazemos com quase metade da redação”.
A representante sindical também apresenta as queixas que há sobre o novo espaço da redação do Porto: “há pessoas que para se levantarem têm de pedir ao colega do lado para passar. É um espaço muito pequeno.” Outros jornalistas com os quais o diário falou indicam a existência de “condições um bocado indignas em alguns aspetos”, exemplificando com a falta de privacidade até para fazer entrevistas.
O seu colega Augusto Correia, dirigente sindical e igualmente jornalista do Jornal de Notícias, acrescenta que os trabalhadores do quadro já começaram a receber os salários em atraso, faltando ainda o subsídio de Natal, mas os “colaboradores”, que são “várias dezenas de pessoas que trabalham com o JN”, ainda não receberam o pagamento.
Falando à Lusa na concentração que juntou cerca de 50 trabalhadores no Porto, o mesmo dirigente sindical destaca que “enquanto agente sindical, enquanto jornalista e enquanto cidadão deste país, não quero nenhum jornal feito em condições deficitárias. Quero jornais de qualidade, quero televisões de qualidade, quero agências e rádios de qualidade”.
Faz o histórico de despedimentos coletivos do grupo dono do JN, avançando que, desde 2002, já “foram despedidas 340 pessoas nesta empresa, mais de 100 jornalistas. A avançar agora, este será também o despedimento mais gravoso de sempre, de 150 pessoas”. E revela que o Sindicato dos Jornalista tentou contactar o gestor do World Opportunity Fund, empresa que é sócia maioritária da Global Media “para tentar perceber quais eram as intenções”. Não houve resposta.
“Mais que previsível falência”, diz a administração
A meio da tarde a administração do GMG lançou um comunicado interno em que dramatizava a situação. Escrevia que ia negociar “com caráter de urgência” rescisões de entre 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.
O texto, revelado pela Lusa, diz que se procederá à negociação de acordos de rescisão “nas diversas áreas e marcas” do grupo de fora a tentar “evitar um processo de despedimento coletivo”. A Comissão Executiva da Global Media ameaça, contudo, com este “opção” “em último caso”.
Ao mesmo tempo informa que, “face aos constrangimentos financeiros criados pela anulação do negócio da Lusa”, “o pagamento do subsídio de Natal referente ao ano de 2023 só poderá ser efetuado através de duodécimos, acrescido nos vencimentos de janeiro a dezembro do próximo ano”.