A Assembleia Municipal de Viseu negou, deste modo, “a oportunidade de se manifestar no sentido de apelar à correção destas iniquidades e de garantir uma política de coesão capaz de contribuir para a prevenção de incêndios e de um melhor desenvolvimento rural no concelho” diz a Comissão Coordenadora Concelhia de Viseu em comunicado.
Esta Assembleia Municipal realizou-se no dia 28 de junho, e teve a participação da representante do Bloco de Esquerda, Maria da Graça Marques Pinto, que apresentou a moção chumbada com apenas dois votos favoráveis e uma abstenção. No dia 29 o bloco teve a presença no concelho do deputado da Assembleia da República e membro da Comissão Parlamentar da Agricultura e do Mar, Ricardo Vicente, que partilhou da mesma opinião expressa na moção.
Para o deputado, é importante que a transposição da Política Agrícola Comum (PAC) “seja pensada de forma participativa, que envolva os municípios, que os autarcas se interessem por este assunto e que exijam do Governo aquilo que nenhum Governo garantiu até hoje, que é que a Política Agrícola Comum seja desenhada em função das necessidades concretas dos territórios e que ouçam as populações, as organizações locais, os agricultores, os produtores florestais, no seu delineamento para que ela seja o mais justa possível.”
Em comunicado, o bloco diz que Assembleia Municipal de Viseu “escusou-se a dar um primeiro passo para um processo estruturalmente tão importante para o nosso território”, dizem, afirmando que continuarão “a defender a coesão territorial e uma aplicação da PAC que responda aos problemas agroflorestais da realidade concelhia!”.
MOÇÃO
Por uma Política Agrícola Comum mais justa para todos os territórios e agricultores e mais útil para toda sociedade
Têm sido muitas as manifestações de descontentamento sobre a Política Agrícola Comum (PAC) em Portugal com especial incidência sobre as desigualdades que promove. Cerca de 40% das explorações agrícolas e 17% da Superfície Agrícola Útil (SAU) do país não beneficiam de quaisquer subsídios da PAC aos agricultores.
Na Região de Viseu, Dão, Lafões, o número de explorações agrícolas excluídas corresponde ao nacional e a área agrícola excluída é ainda mais gravosa, correspondendo a 34% da SAU.
Como é do conhecimento público, o Governo está neste momento a preparar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) que conduzirá a aplicação destes apoios públicos até 2027. No quadro que encerrou em 2020, as medidas florestais representaram apenas 6% da despesa pública da PAC. Estudos recentes demonstram a grande importância da agricultura e da sua integração paisagística com a floresta na redução dos riscos de incêndio.
A Região do Dão e Médio Mondego foi muito afetada pelos grandes incêndios de 2017 e combina uma paisagem dominada por Eucalipto e Pinheiro Bravo, com uma reduzida cobertura do território pelos subsídios da PAC e um grande abandono da atividade agrícola, que são as duas principais razões para a ocorrência de incêndios de grande dimensão, intensidade e perigosidade. Esta região recebe 10 vezes menos subsídios da PAC por trabalhador agrícola do que o Alentejo, situação que só é possível porque mais de metade dos apoios são atribuídos apenas em função da área, com a agravante de uma parte destas terras não serem cultivadas. E também porque o emprego não é tido em consideração. Esta situação beneficia as grandes explorações agrícolas, sobretudo, a sul do Tejo, e prejudica a generalidade das pequenas explorações agrícolas, com especial incidência no centro e norte do país.
Assim, para responder ao interesse público, é preciso que a transposição da nova PAC para o território nacional mude, e muito, garantindo a todos os territórios e a todos os agricultores um apoio equitativo (justo), reconhecendo a diversidade edafoclimática e socioeconómica do país e o papel essencial das agriculturas familiares na sustentabilidade económica, social e ambiental dos territórios mais vulneráveis, e em particular na prevenção de incêndios.
Em conclusão, com uma previsão aproximada de 10 mil milhões de euros em dinheiros públicos para aplicar até 2027, a PAC poderá ser uma ferramenta determinante para a sustentabilidade socioeconómica e ambiental dos territórios rurais, em especial para a agenda da mitigação e adaptação às alterações climáticas, em que a próxima década será decisiva.
O país precisa de um Programa de Transição Ecológica Agroflorestal que possibilite reduzir o consumo de fatores de produção (adubos, pesticidas, etc.), diminuindo a pegada ambiental e salvaguardando a biodiversidade, por duas vias complementares: aumento da precisão e eficiência do seu uso; substituição de consumos por processos ecológicos (limitação natural, captação de azoto atmosférico, etc.).
Para fazer este caminho é também urgente promover paisagens heterogéneas que acolham diversas usos agroflorestais, contrariando a ocupação monocultural das terras, pois ela reduz a biodiversidade e aumenta a vulnerabilidade a fatores bióticos (pragas, doenças e outros riscos) e abióticos (incêndios, secas e outros eventos extremos).
Finalmente, para assegurar essa transição, em benefício de toda a sociedade e da melhoria sustentável dos rendimentos dos produtores, é indispensável incorporar muito mais conhecimento científico em todas as tipologias de explorações agroflorestais. Para o fazer, o ministério da agricultura tem de dispor de recursos humanos mais jovens, qualificados e motivados, invertendo a trajetória de envelhecimento e degradação que tem sofrido, e a capacitação técnica das associações e organizações de produtores tem também de ser continuamente melhorada.
Exige-se assim uma grande mudança na aplicação da PAC face ao passado, garantindo um apoio justo a todos os agricultores e territórios e um uso mais útil dos dinheiros públicos ao serviço de todos os cidadãos.
Assim, a Assembleia Municipal de Viseu, reunida a 28 de Junho de 2021, delibera:
- Enviar a presente Moção à Ministra da Agricultura, ao Ministro do Ambiente e Ação Climática e à Ministra da Coesão Territorial, apelando a que o Plano Estratégico da PAC 23-27 tenha em conta as seguintes necessidades:
- A transposição da nova PAC, o lançamento e a gestão das suas medidas devem ser realizadas com base em Diagnósticos Regionais – elaborados de forma participativa, com o envolvimento continuado das autarquias e outros atores locais – que identifiquem necessidades concretas e prioridades de intervenção com o objetivo de promover a equidade territorial e social, um uso socialmente útil dos recursos públicos, e o acesso de todos os agricultores aos apoios concedidos;
- Entre os critérios de repartição da despesa pública da PAC sejam considerados como fatores determinantes o emprego familiar e as condições do trabalho assalariado;
- A PAC, em coerência e coordenação com todas as políticas com incidência no território, como previsto no Programa Nacional do Ordenamento do Território (PNPOT) e no Portugal 2030, deve ser impulsionadora da transição ecológica agroflorestal;
- A resposta às alterações climáticas exige uma grande capacidade de incorporação de conhecimento técnico-científico e o Ministério da Agricultura e Mar, assim como o Ministério do Ambiente e da Ação Climática devem ser fortemente dotados de meios humanos e tecnológicos de forma a capacitar agricultores, produtores florestais e organizações representativas ao nível da prevenção de incêndios, da gestão e conservação de solos, biodiversidade e recursos hídricos;
- As medidas agroambientais devem ter metas concretas associadas de carácter progressivo, cujo cumprimento seja efetivamente monitorizado, condicionando o valor e a continuidade dos apoios e incentivando a melhoria de eficácia e eficiência dessas medidas;
- Áreas agrícolas não cultivadas e sem qualquer prestação de serviço ambiental contabilizado e monitorizado não devem ser beneficiadas por apoios públicos.
- Enviar a Presente moção à Assembleia e à Comunidade Intermunicipal de Viseu, Dão, Lafões, apelando a que as mesmas tomem diligências no mesmo sentido,
A deputado municipal eleito pelo Bloco de Esquerda,
Maria da Graça Marques Pinto
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