Em pelo menos duas centrais nucleares espanholas, Almaraz, em Cáceres, a 100 quilómetros da fronteira com Portugal e em Ascó, em Tarragona, a situação de emergência decorrente do novo coronavírus vai levar ao adiamento das recargas de combustível necessárias ao seu normal funcionamento. Em Trillo, Guadalajara, o mesmo também pode vir a suceder.
A direção da central de Almaraz informou que atrasará a operação de recarga de combustível, prevista para o próximo dia 29, até ao dia 14 de abril, data em que já não haverá restrições aos movimentos no país. Para além disso, adiantou que optou por uma recarga “simples”, que implica uma paragem mais curta, duas semanas, e para a qual são necessários menos trabalhadores suplementares.
As recargas de combustível são normalmente efetuadas anualmente (ou a cada 18 ou 24 meses, dependendo do tipo de reator) e implicam a contratação de mais de um milhar de trabalhadores. A recarga reduzida prevista para Almaraz vai contar apenas com 200. Ainda assim, e apesar do adiamento para um momento em que o surto de covid-19 já deva ser menos intenso no país, a chegada de centenas de pessoas vindas, na maior parte, de Madrid, um dos pontos em que o surto de coronavírus é mais forte em Espanha, está a causar preocupações.
Durante a operação completa, que dura mais de um mês, um terço do combustível do núcleo do reator nuclear é substituído, sendo armazenado o combustível retirado em piscinas, e vários outros trabalho de manutenção são realizados.
A empresa responsável pela central de Almaraz garante que a “ampliação do ciclo” de duração do combustível é segura e que a decisão foi tomada em coordenação com o Conselho de Segurança Nuclear espanhol.
Este adiamento implica uma redução de potência. A dimensão da diminuição de produção não foi divulgada. Mas coincide, aliás, com uma diminuição de 11% do consumo total de eletricidade em Espanha em duas semanas devido às paragens de produção e de serviços. Um número semelhante ao que é produzido em quatro centrais nucleares.
Para além desta questão, o ambientalista António Eloy, do Observatório Ibérico de Energia, explicou à Rádio Renascença que também há em Almaraz, “um enorme problema de falta de pessoal, já que um terço dos seus trabalhadores estão em casa, de quarentena ou infetados”, o que a deixa mais desprotegida num setor em que “a vigilância tem que ser intensa. Se não for, a falha pode transformar-se num desastre.”