O que te levou a encabeçar esta candidatura?
Encabeço esta candidatura porque acredito no projecto que o Bloco de Esquerda tem para o país e para o mundo. Abril deu-nos a possibilidade de escolher quem nos representa, e por nós decidir aquilo que a todos, e a todas, diz respeito. As coisas não têm corrido bem, vivemos tempos conturbados. A generalidade das pessoas vive com cada vez menos dinheiro enquanto a elite financeira o acumula desmesuradamente, o meio ambiente está cada vez mais negligenciado. Os movimentos populistas encontram nessa angústia a tração para crescer, dividir as pessoas e, assim, enfraquecer a luta social e negar até a luta ambiental. É preciso inverter a especulação que tomou conta de praticamente todos os sectores da sociedade. A política não é excepção e transformou-se neste reality show em que o marketing e o tacticismo têm mais peso que a ideologia. É o voto invisível dos mercados quem vence as eleições. Foram eles também, os mercados, a fazer da minha militância uma inevitabilidade.
Com base na tua experiência enquanto profissional e/ou ativista, o que nos podes dizer sobre agricultura no interior?
Eu sou enólogo e vivo de perto o drama a que chegou a agricultura no interior. Embora o Douro seja um caso especial, que, números redondos, tem vindo a crescer, devido ao produto diferenciado e de alto valor acrescentado que aqui se produz, a verdade é que também aqui não passamos ao lado da ótica neoliberal que favorece a economia de escala e estrangula a agricultura familiar. Isto tem consequências nefastas para as comunidades, deságua na desigualdade e na consequente desertificação. A norte de Vila Real a produção é mais diversificada mas o problema é o mesmo – incentivos que não chegam aos pequenos produtores, aos quais se soma o estrangulamento das cadeias de distribuição. É preciso inverter esta tendência – protegendo os pequenos e médios agricultores, incentivando uma agricultura ambientalmente sustentável e a economia de proximidade, regulando os preços de produção e lucros da distribuição.
Qual a(s) maior(es) preocupação(ões) no teu distrito?
Além da desertificação – o distrito de Vila Real perdeu 21 mil pessoas nos últimos 10 anos – e do problema da agricultura que já referi, as minhas maiores preocupações são os nossos recursos naturais, pela a ótica extrativista com que os sucessivos governos têm olhado para eles, e o desinvestimento crónico nos serviços públicos, com a saúde e a ferrovia à cabeça. Embora sejam setores completamente distintos, a base do problema e a solução são precisamente as mesmas. Os interesses dos grandes grupos económicos estão à frente dos interesses da população e do território. As minas de lítio no Barroso, o combate à pobreza energética, a fixação de médicos e a abertura da linha do Corgo estão no topo da nossa agenda.
Que filme e que livro gostarias de partilhar?
Filme: O Triângulo da Tristeza de Ruben Östlund – Uma hilariante sátira ao capitalismo, passada num super iate cheio de multimilionários e um capitão comunista. Livro: Humankind de Rutger Bregman – uma nova perspectiva da história da humanidade que se baseia no princípio de que, afinal, a generalidade das pessoas são decentes e altruístas. Um livro que desafia preconceitos, cheio de histórias mirabolantes e factos históricos que nos devolvem a esperança na humanidade.