Decorreu esta sexta-feira, dia 27 de novembro, em direto no Facebook do Interior do Avesso, o debate “Caminhos do Interior – Que estratégia para os Transportes Públicos no Interior?”. Os oradores concordaram que é essencial um forte investimento nos transportes no Interior, nomeadamente na ferrovia, fundamental para a descarbonização, mas também em algumas ligações rodoviárias essenciais, pois consideram que o investimento atual é escasso.
O painel contou com a participação de Patrícia Pereira, Engenheira Agrónoma que trabalhou como consultora de projetos no âmbito do turismo e ordenamento do território; de Isabel Pires, deputada da Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda; e Heitor de Sousa, Economista de Transportes.
A moderação ficou a cargo de Eduardo Marques, designer multimédia e ativista pelo Interior, que começou por alertar para a insuficiência tanto na ferrovia como nos autocarros nos territórios do interior, “o que afeta as deslocações de milhares de pessoas todos os dias.”
De seguida, deu a palavra a Patrícia Pereira, criadora da petição “Mais e melhores transportes públicos no interior do país”, que refere que a recolha de assinaturas para a petição que lançou têm sido mais difícil em tempos de pandemia, até pela dificuldade de as recolher presencialmente.
A oradora considera que para quem vive no interior é imperativo ter carro porque a oferta de transportes públicos interconcelhios é muito escassa. Refere que tem havido aposta no turismo e em ecovias, mas “aquilo que é a mobilidade dentro de um concelho ou inter concelhos é uma coisa que não existe. Basta olharmos para as nossas paragens e vermos que não existe qualquer informação quanto aos trajetos ou horários”, considerando que os transportes estão dependentes dos períodos escolares.
Já Isabel Pires considera que “do ponto de vista do interior, aquilo que se tem verificado é uma manutenção por parte do poder político de um esquecimento de investimento em infraestruturas que respondam às necessidades do interior.”
Isabel Pires dividiu a sua intervenção na questão rodoviária e ferroviária, reafirmando que relativamente às portagens nas Ex SCUTS, mesmo com a redução aprovada, a posição do Bloco continua a ser no caminho da sua abolição, porque considera que “quando não se dá outra opção, por exemplo a ferroviária, não se pode estar a dizer às pessoas e às empresas que têm que ter um custo acrescido por estarem num território do interior”, reiterando também a necessidade de acabar com estas parcerias público privadas.
No relatório de avaliação do PART, “é óbvio que pela concentração do número de pessoas ele afetou mais positivamente as áreas metropolitanas.” A deputada refere que reuniu com as comunidades intermunicipais do interior para perceber as dificuldades relativamente à implementação do PART.
Isabel Pires recorda também a criação por parte do Governo do PROTransP que “em teoria tentava responder a um dos problemas” que se prendia com a impossibilidade de redução tarifária onde não existe oferta de transportes. Afirma que relativamente a esta medida já questionaram várias vezes o Ministro do Ambiente e que a resposta do Governo é que “nem o Governo fez o levantamento do que foi feito com o PROTransP”.
Isabel Pires considera ainda que houve desde a legislatura passada para este ano ligeiras alterações ao PNI para 20/30 e para o interior “não temos nada de muito novo. A deputada reconhece que a prioridade deve ser a ferrovia, mas que em alguns locais do interior é necessário apostar em algumas ligações rodoviárias prioritárias porque no interior existem ligações muito débeis, muitas vezes entre a sede de concelho e as localidades em volta.
Heitor de Sousa considera que “se há setor que pode constituir uma alavanca para a redução das emissões dos gases com efeito de estufa e da neutralidade carbónica para 2050” é o setor dos transportes.
Considera que existe demagogia por parte do Governo na questão da ferrovia, porque considera que não têm “nenhum plano que permita ligar todas as capitais de distrito por ferrovia”.
O orador afirma que a integração da REFER na IP fez com que o investimento ferroviário se tornasse residual, considerando que a IP investe demasiado na rodovia e que “se o Governo quer apostar na ferrovia, que crie uma nova REFER”, para que o investimento para a ferrovia não seja canibalizado pela rodovia.
Relativamente ao PART refere que “se calcularmos o investimento per capita nas comunidades intermunicipais do interior é de 2,04 euros por habitante, em 2019. Na área metropolitana do Porto foi de 8,6 euros por habitante e na área metropolitana de Lisboa foi de 25,8 euros por habitante”, considerando que existe uma discriminação negativa para com o interior na forma como o PART está construído. Defende que “é necessário um plano de apoio à redução territorial para o interior para que esta discriminação seja atenuada”.
Heitor de Sousa defende que PART no interior terá que ser diferente porque as regiões metropolitanas têm vários transportes (metro, comboio, autocarros) e “no interior só poderemos ter autocarros e comboios a circular”, defendendo também que um PART para o interior tem que conter a CP para uma articulação entre os comboios e os autocarros.