Os motoristas da Berrelhas, a empresa concessionária do sistema de transportes públicos (MUV) em Viseu, ainda não receberam o salário do mês de janeiro, alegando que as câmaras e CIM têm pagamentos em atraso. Segundo um representante do sindicato (STRUP) esta é uma estratégia para não fazer atualização salarial.
O Jornal do Centro teve acesso e divulgou um memorando em que a empresa Berrelhas admite que “não foi ainda possível efetuar o pagamento da remuneração”, justificando o sucedido com as consequências da pandemia na atividade do setor e com o facto de “as autoridades de transportes não estarem a efectuar os pagamentos devidos”.
As autoridades de transportes, neste caso, são as Câmaras Municipais e as Comunidades Intermunicipais da zona de atuação da empresa. O Interior do Avesso falou com Hélder Borges, do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal (STRUP), que adiantou que as autarquias e as CIM negam os atrasos nos pagamentos. “Não sabemos quem está a falar verdade, certo é que os trabalhadores é que sofrem as consequências”, rematou.
Hélder Borges considera que o sucedido é uma manobra da empresa Berrelhas, também já tentada pela Transdev, em resposta à reivindicação de aumentos salariais para os motoristas do setor do transporte de passageiros. “Há uma reivindicação dos sindicatos ligados à CGTP para um aumento salarial porque ganham praticamente o salário mínimo nacional”, mas as empresas lamentam-se que “há dificuldades no pagamento dos salários, que há dificuldade financeira”, com o objetivo de “meter na cabeça dos trabalhadores que isto está mal, «nem podemos pagar quanto mais dar aumento salarial!» A estratégia é só essa.”
O sindicalista admite as dificuldades, mas desvaloriza o argumento, “sabemos que há dificuldades porque não há passageiros com a afluência que tem havido anteriormente, mas estão a ser patrocinados pelas câmaras municipais, por isso o argumento não é válido, nesse sentido.” Acrescentando que o sindicato reuniu “com as CIMs, quer do Dão Lafões, quer de Coimbra, e o que nos transmitem é que estão a pagar a receita às empresas […], e além disso uma grande parte dos trabalhadores já estão em lay-off”.
No futuro, Hélder Borges diz que o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos continuará “junto da associação empresarial, que é a ANTROP, a reivindicar estes aumentos salariais e outras questões que estão em cima da mesa”, não aceitando que um trabalhador como um motorista de transporte de passageiros, com uma “responsabilidade acrescida”, ganhe pouco mais do que o salário mínimo.
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