O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda questionou o Ministério da Cultura relativamente à destruição do edifício da Panreal, projetada por Nadir Afonso. Recordamos que ao cair da noite do passado dia 17 de fevereiro o edifício começou a ser demolido.
A panificadora encerrou na década de noventa e foi deixada ao abandono, por parte dos últimos proprietários do imóvel, o que levou a uma tentativa de demolição, em 2017. Este facto alertou as forças vivas da cidade para a necessidade de proteção e preservação, que reagiu através de uma petição, solicitando a classificação da panificadora como monumento municipal. Esta diligência permitiu ficar a saber que já existia uma candidatura a monumento nacional, que tinha sido subscrita por diversos arquitetos, incluindo Siza Vieira, que foi arquivada. A justificação do arquivamento invocou falta de orientações quanto à arquitetura modernista, o que pode enfermar de ilegalidade.
Em junho de 2018 foi endereçada uma carta aberto ao Ministério da Cultura, assinada por mais de 800 personalidades do mundo artístico e cultural a pedir a proteção para o edifício da Panreal. A Fundação Nadir Afonso apresentou uma proposta de classificação da Panreal como imóvel de interesse municipal do concelho à Câmara Municipal de Vila Real que foi recusado. Recentemente, o edifício foi adquirido pelo LIDL que planeou para o local um novo parque de estacionamento e que implica a destruição total do edifício. Foram pedidos diversos pareceres junto da DRCN, que determinou que o promotor, em articulação com a CMVR, “deve-se desenvolver um projeto de enquadramento urbanístico para a rotunda contigua ao empreendimento e apresentar no interior do supermercado nas áreas comuns réplica da obra artística do autor”. O edifício, apesar do abandono, encontra-se em boas condições de conservação.
Nadir Afonso projetou a Panreal em 1965, antes de abandonar o trabalho como arquiteto. A sua qualidade arquitetónica torna-o num exemplo muito representativo do movimento Modernista em Portugal. Como refere a Associação Alter Ibi Vila Real, “o imóvel foi objeto de 5 teses de mestrado e de numerosos textos, incluindo diversas páginas no livro de João Cepeda Nadir Afonso Arquiteto (2013). No edifício da Panreal produziram-se todos os dias cerca de 50.000 pães. No seu enorme forno os clientes podiam durante o ano cozer os seus próprios folares, bolas e cabritos. No espaço interior, talvez devido a luz, à decoração em azulejos verdes, organizam-se festas de casamento, batizados e crismas.
Aberta durante a noite – Cafetaria / Pastelaria – tornou-se frequentemente ponto de encontro para os jovens. Com a chegada da UTAD, muitos estudantes, professores e funcionários passaram também a ser seus clientes habituais. Por tudo isto, o edifício e recordado com carinho e faz parte das memórias de muitos.”
O Bloco quer saber se o Ministério da Cultura tem conhecimento do processo de demolição em curso e se pretende tomar medidas para travar e reverter este processo. Questionou ainda se o ministério irá aplicar o artigo 49.º da Lei de Bases do Património Cultural que se destina justamente a evitar este tipo de situações e se quer criar as orientações para a arquitetura moderna e contemporânea, a aplicar a pedidos de classificação, evitando que sejam arquivados, alegadamente, por este motivo.
Escrito por JL