Obra no centro de Chaves coloca edifício romano a descoberto

Chaves
Foto por Vitor Oliveira | Flickr
As obras para a construção de um empreendimento no centro da cidade de Chaves colocaram a descoberto um edifício romano em impressionante estado de conservação, entre outros vestígios arqueológicos que permitem compreender o passado histórico da cidade.

Segundo o Diário Atual, os trabalhos arqueológicos dirigidos pelo flaviense João Ribeiro, da empresa de arqueologia Archeo3D, permitiram, em conjugação com outros trabalhos, identificar até seis patamares do período romano na antiga ‘Aquae Flaviae’.

João Ribeiro explicou ao jornal A Voz de Chaves, citado pelo Diário Atual, que a escavação para a construção do edifício permitiu identificar vários vestígios do passado de Chaves, como elementos da capela da Trindade, do séc. XVII e XVIII, que terá sido destruída no séc. XIX, e cuja localização exata se desconhece, o fosso da muralha medieval já visível na planta Duarte D’Armas, a representação mais antiga da cidade de Chaves, efetuada a partir de duas vistas, e um imponente edifício romano.

“Durante a intervenção identificámos e escavámos o fosso da muralha medieval, no qual encontrámos no seu interior vários elementos, modernos, medievais e romanos; identificámos vestígios de um edifício romano, ainda sem data exata, que foram cortados pela construção do fosso da muralha medieval, que também cortou a rocha”, conta o arqueólogo.

Entre os materiais encontrados registam-se, por exemplo, duas caixas de selo de cronologia romana, uma delas completa o que não é comum. Um destes objetos, com a função de evitar que a correspondência fosse violada, tem a representação de um motivo fálico. Foram também encontrados materiais de construção, uma lucerna, uma faca e vários fragmentos de cerâmica que irão permitir a datação do edifício.

Ainda é incerto se o edifício da época romana pertence à época alto imperial ou baixo imperial, mas tudo indica que se trata de um estabelecimento comercial designado “tabernae”. João Ribeiro explica que o edifício romano tem quatro compartimentos’, ou seja, lojas comerciais, provavelmente relacionadas com padarias ou algum negócio relacionado com farinhas, pois encontrou-se uma epígrafe onde se pôde identificar numa primeira leitura a palavra “farinha” em latim.

“Sabemos que é um edifício de grandes dimensões, e pode ser mais do que um, pois temos estruturas paralelas que podiam quer fazer parte do mesmo edifício, quer ser de outro edifício. Como apenas identificámos as fundações, não sabemos com certeza se as estruturas fariam parte de um mesmo edifício ou de um conjunto de edifícios. O facto de a área de intervenção ser uma das maiores escavadas na cidade permitiu-nos obter dados que nos permitem avançar com uma proposta de que a cidade romana terá sido construída por patamares que acompanham o desnível topográfico”, defende o arqueólogo flaviense.

O arqueólogo explica como este achado complementa outros trabalhos realizados: “pegando nestas estruturas agora identificadas e conjugando-as com as outras que ao longo dos anos têm sido descobertas na cidade em outras intervenções arqueológicas, conseguimos definir seis patamares da cidade romana. O primeiro será junto à atual praça do município, o segundo corresponde ao que é o edifício Polis, numa cota mais baixa. O terceiro, já neste quarteirão, corresponde às estruturas identificadas logo a seguir à muralha medieval; o quarto patamar, o grande edifício que encontrámos agora, o quinto patamar abaixo desse, identificado pelos vestígios encontrados numa das sondagens realizada na antiga padaria mais perto da rua de Santo António, e o sexto patamar corresponderá à necrópole no largo das freiras, que “já estaria fora da cidade romana”.

Ainda segundo o Diário Atual, o responsável pelo grande empreendimento, ainda sem projeto definido, que está a ser construído no local, em plena rua de Santo António e junto ao largo General Silveira, António Fontoura, garante que o achado arqueológico permanecerá visível.

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