Na passada quarta-feira, dia 18, realizou-se em Vila Real uma performance de “um violador no teu caminho”. Um protesto, criado pelo coletivo feminista LasTesis no dia 25 de novembro e replicada na cidade transmontana pela Catarse/Movimento Social, que contou com a presença de cerca de três dezenas de mulheres.
Esta performance é um protesto contra a culpabilização que existe na sociedade contra as vítimas de violação, bem como a denúncia da violência patriarcal como sistémica. No manifesto da atuação escreviam “Gritemos, cantemos e dancemos por todas aquelas que já não o podem fazer, e por todas aquelas que todos os dias sofrem as mais variadas formas de violência.”
Refere ainda que Vila Real, como uma cidade de interior, que possui uma grande comunidade estudantil, com uma cultura universitária que parece vir carregada com a normalização da violação e da culpabilização da mulher, bem como uma objetificação do corpo da mesma, “consideramos que é não só importante, mas até mesmo urgente trazer este tipo de performances e protestos à cidade para que uma vez por todas estes tópicos deixem de poder ser ignorados ou varridos para debaixo do tapete.” Marta Rosário indica que esta é uma performance que chama à atenção para a tendência das sociedades para a culpabilização das vítimas, nomeadamente no que diz respeito a casos de violação e abuso. “Começou no Chile e foi-se espalhando por vários países que não só se reviram na luta, como na letra, e foi assim que também nós decidimos trazer esta performance-protesto a Vila Real. O nosso objetivo é acabar com a violação, acabar com a culpabilização da vítima, acabar com a violência contra as mulheres, e é dessa forma que saímos para a rua no dia 18, para aumentar a discussão e a consciencialização sobre estes temas, para fazer uma crítica à sociedade e para que cada uma de nós possa viver sem medo.”
Questionada sobre se ainda existe um longo caminho a percorrer, considera que os problemas da sociedade patriarcal são muitos e estendem-se desde a relação mais próxima, com o marido que bate na esposa ou a violência no namoro; ao emprego, com o patrão que abusa da autoridade e acedia a sua funcionária, para não falar da desigualdade salarial ou questões ligadas à maternidade; indo até questões legais com tantos agressores que acabam favorecidos e impunes perante aquilo que é um crime, caindo o peso de sair de casa e abandonar a sua vida para procurar segurança para cima da vítima.
“Quando as agressões são tantas e tão omnipresentes, é impossível não pensar que o caminho é longo, mas devemos pensar também na diferença que cada um pode fazer, seja nas lutas na rua como o foi esta performance, seja pela presença e voz nas conversas de café, nos debates entre amigos e até nos comentários que por vezes parecem inofensivos. Cabe a cada uma e a cada um de nós tomar um papel ativo para que tudo possa mudar, de procurar aprender sempre mais sobre estes assuntos e de tomar uma posição firme em relação as estas questões, não as deixando passar impunes.”
Esta atuação, que se tornou viral após a sua primeira realização no Chile a 25 de novembro, já se realizou também noutras cidades portuguesas. Em Lisboa no dia 8 de dezembro, no Porto no dia 14, em Coimbra no dia 16. Está marcada ainda em Braga para o próximo dia 5 de janeiro.
Letra adaptada pela Catarse/Movimento Social:
O Patriarcado é um juiz
Que nos julga por nascer
E o nosso castigo
É a violência que não vês
O patriarcado é um juiz
Que nos julga por nascer
E o nosso castigo
É a violência que vês
Femicídio
Impunidade p’ro meu assassino
Agressão
Violação e Ocultação
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem o que vestia 4x
O violador eras tu
O violador és tu
São as Leis,
São os Juízes
É a Sociedade
É o Estado
O Estado opressor é um macho violador
O Estado opressor é um macho violador
O violador eras tu
O violador és tu
Dorme tranquila, miúda inocente
Não te preocupes com o delinquente
Da tua infância, com muito amor
Quem vai cuidar é o teu agressor
O violador eras tu
O violador és tu
O violador eras tu
O violador és tu
Escrito por JL