Perigo ambiental na antiga Companhia Portuguesa de Fornos Elétricos exige intervenção urgente

Foto por Nelas-Quase Esquecida | Facebook
Após a reportagem de 17 de Junho em que a SIC denuncia a catástrofe ambiental e negócios obscuros associados à antiga Companhia Portuguesa de Fornos Elétricos, localizada em Canas de Senhorim, no concelho de Nelas, o Bloco de Esquerda dirigiu uma pergunta ao Governo no sentido de esclarecer e exigir soluções para a situação que se encontra no local.

A antiga Companhia Portuguesa de Fornos Elétricos, começou a laborar em 1917 e manteve-se a produzir mais de 70 anos, tendo encerrado na década de 80 do século passado.

É hoje propriedade da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e foi, durante vários anos, um dos estaleiros de desmantelar sucata das empresas do grupo de Manuel Godinho, o empresário de Ovar envolvido no processo Face Oculta, que a vendeu mais tarde ao banco público.

Segundo a reportagem da SIC no Jornal da Noite de 17 de junho, a Sociedade de Empreitadas Rodoviárias, empresa do grupo de Manuel Godinho, fez em 2001 um “lease back” à Caixa geral de Depósitos. Este negócio implicou que a empresa de Manuel Godinho passou de proprietária a arrendatária, tendo a CGD emprestado milhões de euros que lhe seriam reavidos em 12 anos de rendas com juros. No entanto, as empresas de Manuel Godinho terão deixado de laborar naquele local, tendo-o deixado ao abandono juntamente com toneladas de resíduos, como monitores de CRT e lâmpadas fluorescentes, entre outros. Não só não terão devolvido o total do empréstimo, como terão deixado um brutal passivo ambiental por remover e tratar convenientemente.

Desde 2013, e segundo um relatório de sua autoria, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro conhece a existência de resíduos contaminados com metais pesados como mercúrio e chumbo no interior das instalações.

O chumbo e o mercúrio são metais pesados que apresentam toxicidade para os seres humanos e seres vivos, podendo causar várias doenças. As partículas de chumbo são inaladas e vão-se depositando nos pulmões, apesar de também poderem ser assimiladas pela entrada na cadeia alimentar. Apenas em 2019 a CCDR-C iniciou o processo de contraordenação para com a Caixa Geral de Depósitos, apesar da notificação para a remoção dos resíduos ter sido emitida em 2016.

No ano de 2018, o Presidente da Câmara Municipal de Nelas revelou a aceitação da proposta de compra, à Caixa Geral de Depósitos, das antigas instalações dos Fornos Elétricos, proposta essa que envolve o pagamento em 10 anos de 420 mil euros, e condicionado ao apoio para a recuperação do passivo ambiental no valor de cerca de 300 mil euros e de um apoio para a requalificação do espaço para uma nova área de acolhimento empresarial (com 13 lotes destinados a empresas). Entretanto, e tendo em conta a estimativa dos materiais ali armazenados, esta requalificação encontra-se estimada em cerca de 1,7 milhões de euros.

Não fosse situação suficientemente grave, ainda acresce que existe no local um reservatório de água que terá sido utilizado nos últimos anos, nomeadamente para o combate aos incêndios florestais, ou ainda para utilização industrial, o que poderá ter levado a contaminação por metais pesados solos e ecossistemas em que esta água tenha sido utilizada.

Tanto quanto foi reportado por esta reportagem, e segundo a resposta da Agência Portuguesa do Ambiente, esta água não terá sido analisada, pelo que o seu nível de contaminação é, até ao momento, desconhecida, mesmo havendo indícios de que este local não é estanque e que a água tem sido utilizada para outros fins.

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